segunda-feira, 3 de maio de 2010

Haiti, Bósnia, ismos e ilações sonolentas.




O entendimento recorrente do tema aponta para uma necessidade de se perceber uma direção a ser adotada pela sociedade. 

De que forma, em meu entender e repito ser sempre em meu entender e não verdade absoluta, é que hoje não temos o que seria um referencial objetivo e palpável a ser visto, sentido, percebido, seguido e por ele se lutar, lutar-se de forma mais moderna mas, que ainda assim, lembraria o que se fez no passado e outras sociedades farão no futuro. 

As pessoas quando em grupos sociais se aglutinam em função de entendimentos e percepções comuns que geram determinados códigos de conduta, escritos ou subliminares, que traduzirão o que se percebe como bem comum acordado, aceito por todos. Uma vez aceitos esses códigos tornam-se prevalentes nas condutas das pessoas e para muitos de fora tornam-se, até, um absurdo, o que perfaz, no fim, a idiossincrasia daquele grupo social em particular. 

Com muita sabedoria, a ONU logo em sua criação, reconheceu que os povos e as nações têm o direito à preservação de sua cultura, idiossincrasia e identidade. Chama-se autodeterminação dos povos. Por exemplo, circuncisão, oblação, meninas prometidas em casamento, casamento entre parentes, direitos de posse, direitos de vingança ou compensação pecuniária, uso de fauna, flora e elementos do ambiente como alimentos, elementos de adoração pagã, etc etc. 
Para nós comer cachorro, lesmas, cobras, preservar bois, vacas, oferecer plantações inteiras a deuses e ao mesmo tempo passar fome são eventos absolutamente absurdos....de acordo com o nosso marco perceptivo que, acaba com o tempo, também virando um marco teórico ou legislativo.


Como a população se aglutina em termos de propostas de bem comum? Ainda que este bem comum tenha a ver com o prejuízo de outra sociedade? Haiti e Rep. Dominicana é um exemplo. Bósnios, sérvios e croatas também. Shiah, Sunni e curdos no Iraque também. E tudo isto foge, em muito, apenas como poucos exemplos, de nosso referencial ocidental de querer entender o mundo.

 Falei dos ismos e, de acordo com uma professora que contratei para uma palestra hoje, após trinta e cinco anos estudando Oriente Médio, Dr Judith Yaffe (ela está no Google para quem quiser conhecer seu trabalho) falou que contra ismos não se luta, não há guerra contra. E, de fato, se olharmos no passado, nazismos, sionismo, judeísmo, islamismo, facismo etc, e, também de certa forma, o movimento que culminou na queda da Bastilha, foram nada mais (se é que pode se reduzir a um nada mais) entendimento coletivo de posição a ser adotada como regra de conduta aceita, ainda que subliminarmente, por todos.

 O como a sociedade se posiciona é um resultado de uma expressão que é verbalizada por alguém, ou um grupo, que melhor observa e traduz o sentimento. Ressalta-se traduz o sentimento que é geral. A título de exemplo, o nazismo foi uma proposta muito bem vendida a uma sociedade que já havia tido problemas no fim da primeira guerra mundial. O nazismo como doutrina social, ou pelo menos, como proposta de doutrina social, estava latente em muitas pessoas e grupos de países na Europa. 

Na velha Europa, que estava cansada de predomínio e prevalência de outras nações. O nazismo como partido e promessa, voltando-se ao tempo, foi defendido e, principalmente, financiado por quem mais tarde se tornou objeto de perseguição. Concorreu em duas eleições e só ganhou no segundo turno do segundo sufrágio eleitoral. O importante, agora, é se ressaltar o como uma doutrina traduziu um sentimento, um pensamento. E o tradutor que melhor o faz são líderes, pessoas ou partidos, que têm uma conduta que sirva de referencial uníssono do que se quer ter como sociedade, absolutamente alinhado à sua idiossincrasia. Em particular acredito, e ressalto apenas o acredito, em um terceiro mandato em nosso país exatamente por causa dessa percepção.

 Observa-se, então, o relativismo de tudo o que vier a tentar traduzir um padrão comum de grupos sociais além das fronteiras mais próximas a nossa. Assim, sociedades ocidentais tentam, ainda, impor referenciais às sociedades orientais ou do meio-oriente. As guerras, Iraque, Irã, Korea, Bálcãs, Cachemira, Afeganistão, etc, são apenas exemplos fortuitos, ainda que absolutamente incidentes.

Quando, em meu meio, tentamos entender para se traduzir, o que sejam os denominados crimes transnacionais, a corrupção aparece sempre em primeiro lugar. Todavia, o que mais incomoda é que ela é prevalente, em termos de percepção, a partir de nossa cultura e visão. Outras sociedades quando se têm um forte predomínio ou herança de nobreza as ações que caracterizam a corrupção para nós passam a ter menor densidade tornando-se, por vezes, imperceptíveis.

Como tenho nesta noite algo a colocar neste espaço, relembrando serem colocações livres em um espaço que se pretende ser livre. Volto a ressaltar a idiossincrasia do povo brasileiro, sua percepção acerca do que para muitos seja corrupção (alguém relembrou o trabalho de um sociólogo sobre uns 40%) e, por conseguinte, o que seja ético ou não. Remeto, sempre, ao resultado da Pesquisa Economica e Social Brasileira (PESB) muito bem analisada no livro: A cabeça do Brasileiro.

Um ponto que ressalto é que nossa mídia tem agenda própria, ela tem como objetivo vender seu produto, a notícia, e o bem-comum fica sendo algo extra que eventualmente possa vir como elemento agregado a elaboração de seu produto. O problema é que a mídia no mundo inteiro são os olhos e ouvidos de uma sociedade. Como somos, ainda, apenas oito milhões em 190 milhões que lemos periódicos, os demais são influenciados por rádio e televisão. Como temos sérios problemas estruturais, físicos e logísticos, a Globo ainda é e será por muitos anos, a única a integrar o país em absolutamente todas as partes. Até em Pari-Cachoeira (AM) e Serra da Raposa (RO) se assiste a Globo. 

Penso eu, portanto, que por não termos eventos históricos que aglutinaram nossa sociedade em um entendimento do que seja bem comum e, particularmente, acho que a percepção do Macunaíma e do "tácertosim" é mais prevalente, acredito que Ética e Cidadania serão temas que serão relativizados por anos a fio. É como se fora um ismo, contra o qual não se luta, se convive.

Eu não vislumbro, sob a ótica de um referencial social sólido e objetivo -o qual não temos- venha a surgir um líder ou grupo de líderes que venham a trazer soluções para propostas ou demandas que ao certo não sabemos quais sejam. Se nós que temos acesso à informação acreditamos ter algo definido em mente, quem não tem não significa que vá pensar ou demandar o mesmo que nós, seja no voto, seja em mobilização. Se nossa idiossincrasia está amparando cidadãos que já em sua segunda geração sabe que é mais confortável se passar por desvalido para se obter bolsas e auxílios do governos, esta fatia ser for prevalente não demandará melhorias sob um ponto de vista que ele não enxerga como sendo problema, daí minha visão do relativismo como também de uma eventual manutenção do governo atual.

Se já está na hora de se buscar soluções definitivas eu diria que, em primeiro, o mundo do dever ser em nossa sociedade jamais será atingido ou mesmo requerido, e segundo, não há como se definir para outrem o que lhe seja melhor, principalmente em nossa sociedade ocidental.
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