sábado, 8 de maio de 2010

A metade do caminho J.R. Guzzo - Veja


Pode parecer redundantemente inadequado, mas percebam que a tônica do assunto abaixo vem se repetindo nas últimas semanas. Em particular, pela insistência que a propaganda oficial vem tratando os problemas fundamentais de nossa economia como resolvidos, contudo, uma miríade de outras notícias, nacionais e estrangeiras, vem dando conta de nossa incapacidade de desenvolver uma infra-estrutura adequada para se promover desenvolvimento.

Não admira que, pelo discorrido abaixo, se obtenha 80% de aprovação, todavia, para se chegar à posição de quinta economia mundial, e nela se manter, há que se cuidar primeiro, da infra-estrutura, energia de qualidade disponível, que permitirá a extensão e ampliação de estradas para escoamento de produção, de circulação de bens e de serviços, assim, e somente assim, teríamos saúde e saneamento básicos, que permitiriam ao cidadão sadio reter conceitos fundamentais para sua educação, para se constituir fisicamente bem para competir para posições de trabalho complexas e competitivas, que permitiriam diminuir os gastos públicos com saneamento, saúde, desenvolvimento etc etc.

Há muito o que se dizer e conversar, mas como o jornalista muito bem coloca abaixo, é um assunto chato, inconveniente etc etc. Como só quem abre este blog para ler denota certo interesse, é muito melhor e mais confortável dessa forma procurar passar idéias do que hoje nos seja fundamental, primeiro lugar absoluto em nossa agenda diária. 

Claro está que em um churrasco, festinha de aniversário de crianças e demais reuniões que pessoas adultas, democraticamente atuantes e maduras, tocar neste tipo de assunto causa certa repulsa, pois mais fácil é se falar de novelas, BBB e, para espanto meu, de Datena e Ratinho (comum demais ultimamente - e não faço a menor questão de saber). Mas se o assunto está se tornando corriqueiro demais na mídia séria significa dizer que há algo de grande por detrás das "novas" propostas que nos arrastarão presos aos nossos velhos paradigmas felizes por sermos "eternamente" um país do futuro...que nunca chega.


Enfim, há algo de hilário nisto tudo: Se a estatística é uma ciência exata, pode se inferir que trinta por cento da população brasileira é feliz que nem pintinho em m... literalmente, posto que se 80% dos brasileiros aprovam a atual administração e apenas 50% tem saneamento básico...os outro trinta circulam entre valões nas ruas e ainda assim sentem-se assistidos pela atual administração.






A metade do caminho

"Basta pensar durante cinco minutos sobre certas realidades paraconstatar o disparate que é considerar o Brasil atual um país bem-sucedido"





Está entre os maus hábitos permanentes do Brasil a ilusão de achar que é possível conviver, sem maiores prejuízos, com a combinação com a qual tem convivido até hoje – uma geleia geral que junta a incompetência da máquina pública na execução dos seus deveres, a indiferença de um eleitorado sem interesse, paciência ou informação para acompanhar o que os políticos fazem com o seu dinheiro e os vícios de um sistema político que está entre os piores do mundo. O sentimento da maioria é que não compensa esquentar a cabeça com esse vale de lágrimas, quando o dia a dia tem assuntos mais urgentes para o cidadão resolver. Mas o pouco-caso com a realidade, infelizmente, sempre cobra um preço alto. Não se trata de uma cobrança que vai ficar para o futuro, como frequentemente se imagina. O preço já está sendo pago há muito tempo, e tende a ficar cada vez mais alto. Basta ver tudo de que o Brasil de hoje precisa com urgência, e não tem – e tudo o que tem de sobra, e de que não precisa.
Há um bocado de esperança, diante dos avanços reais que o país tem feito, de que, com perseverança, paciência e uma atitude mental afirmativa, dá para ir tocando as coisas; um dia, lá na frente, o grosso dos problemas estará resolvido. Existem fatos de sobra para demonstrar que o Brasil, neste momento, está muito melhor do que já foi em qualquer outra época do passado. Está melhor em questões essenciais, não em aparências, e está melhor de verdade, não porque quem diz isso é a propaganda boçal dos governos – até porque boa parte desse progresso não foi feita pelas autoridades constituídas, mas apesar delas. O problema é outro. Podemos ter crescimento de 6% ao ano, reservas de 250 bilhões de dólares e mais uma promoção no rating das agências internacionais que avaliam nossa capacidade de pagar dívidas. Podemos entregar, como acaba de ocorrer, 25 milhões de declarações de renda à Receita Federal. Podemos nos firmar como a sétima ou a oitava maior economia do mundo. Podemos ter e ser mais uma porção de coisas, mas vamos continuar sendo um país subdesenvolvido enquanto se mantiver essa situação em que tão pouca gente, na população brasileira, tem acesso real a uma vida efetivamente melhor.
Basta pensar durante cinco minutos sobre certas realidades para constatar o disparate que é considerar o Brasil atual um país bem-sucedido, quando 50% da população, por exemplo, não é servida por rede de esgotos – e, principalmente, quando uma calamidade desse tamanho é tratada com a maior naturalidade do mundo pelos outros 50%, em especial os que têm a obrigação de resolver o problema. O assunto, na verdade, é visto como uma tremenda chatice. Nem poderia mesmo ser diferente, quando se verifica que ainda não apareceu, em toda a história política do Brasil, um único homem público bem-sucedido que tenha elegido como prioridade em sua carreira a luta por instalação e tratamento de esgotos. Só um débil mental seria capaz de agir assim; pela sabedoria política em vigor, obra que não se vê é obra que não existe. Estamos avançando, é claro. Em 510 anos já se conseguiu chegar à metade do caminho; um dia, se Deus quiser, todos estarão atendidos. Mas a única pergunta que interessa, nessa e em outras questões do mesmo tipo, é: quando? Para os quase 100 milhões de brasileiros que não têm esgoto, faz toda a diferença.
Não se trata de uma questão isolada. Recentemente, num artigo que es-creveu para VEJA, o professor Gustavo Ioschpe observou que só 25% da população brasileira alfabetizada está em condições de entender um texto como aquele. Não lidava, ali, com nenhum ponto de trigonometria avançada; era apenas uma página de revista, escrita em português corrente e que deveria ser acessível a todos os que completaram os primeiros oito anos de escola. É uma excelente notícia para os políticos, a começar pelos que mandam no atual governo – vivem se gabando de que o "povão" não lê nada do que a imprensa escreve e, portanto, as críticas que recebem não têm efeito nenhum. Mas, para os 75% que não conseguem entender o artigo do professor Ioschpe, essa situação é um desastre. É para eles que estão reservados, no Brasil que cresce a 6% e tem "grau de investimento", os empregos com trabalho mais pesado, os piores salários e, em vez de carreiras profissionais, ocupações sem futuro algum – isso quando conseguem emprego, num mercado em que competem em desvantagem cada vez maior.
Dá para ir levando assim, é claro. Mas, como informa o artigo que tão poucos brasileiros conseguem ler, não existe nenhum país desenvolvido no mundo com o abismo social do Brasil.
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Um comentário:

  1. Ana Paula F. Cunha8 de maio de 2010 às 21:27

    Parece que, no Brasil, o saneamento básico não é encarado realmente como algo BÁSICO, essencial... assim como a educação básica, o nível de atenção básico de saúde, e como tantas outras coisas tão básicas para outros países, mas que para nós parece ser algo tão complexo de ser resolvido! =o) Precisamos começar a pôr em prática algo mais básico pra resolver os demais: saber escolher os nossos representantes!

    Um abraço e boa noite! ;o)

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