terça-feira, 23 de novembro de 2010

O lado negativo das importações brasileiras

 Rogério Cesar de Souza
O Estado de S. Paulo - 23/11/2010


É verdade. A economia brasileira vive um bom momento. O emprego e a massa de rendimentos vêm crescendo a taxas significativas. Além disso, o comércio e os serviços apresentam desempenhos históricos. De olho nesse comportamento, os investimentos se expandem para fazer frente à trajetória ascendente da demanda doméstica.

É verdade. O Brasil vive um ciclo de crescimento muito positivo, que carrega consigo, naturalmente, um aumento das compras de bens produzidos fora do País. O lado positivo disso é que o Brasil vem importando grande quantidade de máquinas e equipamentos, que aumentam nossa capacidade de produção e, regra geral, ao incorporarem melhor tecnologia, nossa produtividade.

E há um lado negativo? Sim, e ele não está no aumento da importação em si mesma - é bom que se diga -, mas na explicação de seu crescimento exponencial. Esse comportamento das importações é fruto de uma distorção do câmbio. O câmbio valorizado diminui a competitividade das empresas, que perdem mercados com o deslocamento da demanda interna para o exterior. Isso pode inibir novos investimentos no setor de bens de capital e desestruturar a cadeia produtiva do setor. Talvez isso não se evidencie no início do ciclo de crescimento. Talvez possa não ocorrer mesmo quando o ciclo estiver mais adiantado. Mas isso é fazer uma aposta muito alta, algo que poderá custar caro ao Brasil.

É ECONOMISTA-CHEFE DO INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI).

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