É do cidadão que joga lixo nas ruas;
É dos cidadãos catadores de lixo que esculhambam a coleta seletiva -dos pouquíssimos conscientes que o fazem-;
É do cidadão que resolve morar em encostas onde o desmatamento e a fragilização do solo cedem, erodem e arrastam tudo pela frente;
É dos vereadores e prefeitos que não só permitem mas tornam tais áreas legais;
É do cidadão comum que não fiscaliza a gestão pública acima;
É do rigor da Lei de Licitações (8666) que permite que fornecedores e construtores acordem entre si e o ganhador, também cidadão brasileiro, cumpra o serviço requerido com material e engenharia de má-qualidade;
É da mesma Lei que permite um prazo enorme para que o provedor de serviço de má qualidade se justifique e demore na correção e o prefeito e o cidadão tenha que manter o de baixa qualidade até o mérito ser julgado na justiça;
É do rigor da Lei de Responsabilidade Fiscal que restringe recursos para a mitigação antecipativa para prevenção de atos para diminuir, e não dirimir, os estragos causados pelas enchentes;
É da gestão presidencial do Fundo de Participação de Estados e Municípios cujo repasse de verbas para municípios é sempre MUITO aquém do que o prefeito precisa para usar e resolver seus problemas;
É do pacato e mau-caráter cidadão brasileiro que fornece material e serviços de baixa qualidade, daí existir o rigor da Lei 8666;
e mais um enorme elenco de motivos dos quais o cidadão comum não faz a menor questão de conhecer tampouco a mídia que só quer ganhar publicando denúncias para vender seus jornais e aumentar sua audiência.
Enfim, amigos, é o que minha experiência prática e científica (parte do mestrado em Segurança e Defesa) pode lhes informar e, de forma incipiente, lhes esclarecer...
Todos menos São Pedro e queimadas na Amazônia são os culpados.
Mas quem preferir, pode continuar acreditando, como o jovem do vídeo que lhes enviei, que Jesus paga todas as dívidas financeiras...
A culpa não é das chuvas
EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo
A destruição, pela terceira vez em quatro anos, de um trecho da rodovia federal que tem servido como dique para conter as águas do Rio Muriaé, no município fluminense de Campos - forçando a remoção de 4 mil pessoas da localidade de Três Vendas -, é mais uma dramática comprovação da péssima qualidade da gestão pública no País. O fato comprova o mau planejamento das obras públicas, a incapacidade do poder público de adotar medidas preventivas contra os efeitos dos fenômenos naturais e ao descaso das autoridades com a situação da população afetada por esses problemas. A culpa não é do mau tempo, como muitas autoridades vêm afirmando, mas delas próprias, em todos os níveis de governo.
O fato de um trecho da rodovia federal BR-356 (Itaperuna-Campos) ter se rompido pela terceira vez consecutiva por causa das enchentes do Rio Muriaé demonstra que seu traçado é incorreto ou que sua construção não é adequada, ou as duas coisas. "As inundações na região do Rio Muriaé são recorrentes e a estrada deveria ter sido projetada para que não sofra rompimento", disse ao Estado, com lógica cristalina, o engenheiro geotécnico Alberto Sayão, professor da PUC-Rio e ex-presidente da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos (ABMS). "A estrada não está preparada para cheias e é possível que vá se romper em outros trechos. Deve ser feita uma avaliação para que seja reconstruída em condições adequadas." Como resumiu o engenheiro, "a culpa não é de São Pedro".
Em janeiro de 2007, uma pessoa morreu ao cair com seu carro na cratera aberta na BR-356 pelo Rio Muriaé. Em dezembro de 2008, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsável pela operação da rodovia, cortou parte dela para facilitar o escoamento da água. Situado na margem da rodovia oposta ao rio, e em nível mais baixo, o distrito de Três Vendas, a 15 quilômetros do centro de Campos, foi inundado também nessas ocasiões.
Por incapacidade técnica do Dnit ou por outro motivo não conhecido, o trecho destruído foi reconstruído e recebeu diversas outras obras. O superintendente substituto do Dnit, Celso Crespo, disse ao jornal O Globo que cerca de R$ 100 milhões já foram aplicados na BR-356.
"Em 2007, fizemos a contenção do aterro da margem esquerda do Rio Muriaé", disse o supervisor do Dnit em Campos, Guilherme Fraga Freitas. "Em 2008, a abertura foi feita por máquinas. Depois, ela foi fechada. Nada do que foi feito nos últimos anos foi danificado."
Agora, o custo estimado para a reconstrução da pista é de R$ 1,5 milhão. Mas, daqui a algum tempo, muito provavelmente, tudo terá de ser refeito, sempre a custos adicionais para os contribuintes e de danos à população, pois nada se disse sobre um projeto de um novo traçado ou de obra resistente às águas do rio para resolver o problema.
A prefeita de Campos, Rosinha Garotinho, foi advertida há três anos sobre a necessidade de remoção dos moradores de Três Vendas para uma área mais alta conhecida como Colina, como informou ao Estado o pesquisador Arthur Soffiati, do Núcleo de Estudos Socioambientais da UFF - mas nada fez.
Na região serrana do Rio de Janeiro, as marcas da tragédia que custou mais de 900 vidas no ano passado ainda são visíveis - o que mostra a omissão do governo. O pior é que a situação em Nova Friburgo sugere o risco de repetição do desastre, sem que as autoridades se mobilizem para evitá-lo.
O governo federal gere mal os poucos recursos destinados à prevenção e combate às enchentes e outros desastres naturais. A destinação privilegiada desses recursos para regiões de interesse político-eleitoral, daqueles que tomam as decisões - como ocorreu na gestão do atual ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, de Pernambuco, e ocorrera na de seu antecessor, Geddel Vieira Lima, da Bahia -, é uma das piores características dessa forma de governar. Outra é a incapacidade do governo petista de aplicar com um mínimo de eficiência os recursos disponíveis. No caso de ações de "prevenção e preparação para desastres", entre 2004 e 2011, o governo aplicou apenas um quarto dos recursos autorizados, como mostrou a organização não governamental Contas Abertas.
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