quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Ginásio Carioca

CLAUDIA COSTIN
O GLOBO


Há alguns anos, entrar para o ginásio era um feito memorável: as famílias comemoravam e associavam o sucesso nas provas de admissão, especialmente se a criança fosse de origem humilde, com um talento grande e um futuro promissor.

Muitos lançam olhares saudosos a esse passado, em que a escola pública apresentava qualidade, e culpam os novos tempos por oferecer um projeto de ensino populista e sem conteúdo forte. Culpam, em especial, o poder público por ter permitido a inclusão de um número grande de crianças pobres na escola, sem assegurar a qualidade necessária. De fato, o ginásio público era para poucos, normalmente os filhos dos letrados ou de famílias que tinham clareza do papel da Educação como mecanismo de ascensão social. Os demais eram excluídos.

No Brasil, as reformas educacionais do período militar acabaram com o ano de admissão e com os exames de entrada no ginásio. Alguns anos mais tarde, após a redemocratização do país, o acesso ao ensino fundamental se universalizou, o que representou, sem dúvida, um grande avanço.

No Rio de Janeiro, após o anúncio pelo prefeito Eduardo Paes do fim da aprovação automática e quase dois anos de esforço para dar um salto na qualidade da educação carioca, os resultados são surpreendentes, nos anos iniciais: a adoção de um currículo claro, acompanhado de provas bimestrais unificadas e reforço escolar estruturado, trouxe uma evolução importante no Ideb, índice que mede a aprendizagem do aluno e dados de repetência e evasão. Esse sucesso, porém, não se repetiu, na mesma medida, nos anos finais. Do 6º ao 9º ano, tivemos melhorias importantes na Prova Brasil, mas esse resultado positivo foi suplantado pelo aumento em 366% na taxa de reprovação. Além disso, as notas, embora melhores que em 2007, ainda deixam a desejar.

Nesse sentido, concebemos um novo modelo de ensino do 6º ao 9ºano que chamamos de Ginásio Carioca. O nome empresta do antigo ginásio a associação com excelência acadêmica e agrega-lhe o adjetivo carioca, porque se quer excelência sem exclusão, para todos. É fácil oferecer bom ensino para alunos excelentes, mas com isso acabamos com a ideia de que a escola pública pode ser fonte de oportunidades.

Como lograremos implantar semelhante modelo? Adotando uma estratégia que vem dando certo em várias cidades: instrumentalizando o professor com um material adequado para um ensino mais eficiente. O professor neste segmento de ensino tem pouco tempo para preparar seus planos de aula e se vê muitas vezes sozinho com a tarefa de preparar aulas instigantes para um público adolescente e inquieto. Decidimos, nesse sentido, chamar 220 professores, a maioria deles de sala de aula, para aos sábados preparar aulas digitais e apostilas, para seus colegas. Cada professor assina uma ou mais aulas. A UFRJ capacitou e acompanhou os professores, e consultores de outras universidades também nos ajudaram na tarefa.

Para viabilizar o Ginásio, projetores serão acoplados a computadores em cada sala, projetando as aulas digitais que incluem vídeos, exercícios, pesquisas e jogos. O professor terá um plano de aula e textos para sua preparação e os alunos, material para revisão e dever de casa. Para completar, cada aluno será orientado para preparar seu projeto de vida. Planejar o futuro, entender a ligação entre o estudo e um caminho profissional desejável, em que empenho seja valorizado, resgatando uma ética e um sentido de esforço. Não há sonho realizado sem luta. A escola pública deve oferecer ensino de qualidade. O resto é com cada aluno, protagonista de sua própria vida!

CLAUDIA COSTIN é secretária de Educação da prefeitura do Rio.
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