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Há quem sustente que o êxito econômico da China se deve à moeda desvalorizada, enquanto o da Corei a do Sul adviria de políticas industriais. Trata-se de simplismo que desconsidera a complexidade do processo de desenvolvimento e ignora razões mais relevantes para explicar o sucesso desses dois países.
Não é fácil falar sobre o desenvolvimento. Passados dois séculos desde a Revolução Industrial, mais de 200 teorias buscam provar suas origens e saber por que ela aconteceu na Inglaterra e não na França ou no Japão, que dispunham de ambiente semelhante.
As políticas industriais chinesas e coreanas tiveram seu peso, mas o importante foi a estratégia por trás delas. A ideia era expor a indústria à competição internacional. O Brasil e a América Latina optaram pelo inverso, isto é, por medidas contra a concorrência externa.
Enquanto a nossa estratégia buscava a substituição de importações, a deles focalizava as exportações. Para competir, era preciso adotar tecnologias e gestão típicas dos países ricos, o principal destino de seus produtos. Ganhos de eficiência e produtividade vinham da inovação.
A substituição de importações deu origem à industrialização ineficiente e a uma cultura favorável ao protecionismo. A modernização de muitos segmentos da indústria brasileira somente se acelerou quando se tornou necessário enfrentar a abertura da economia.
Aqui se negligenciou a educação, pois ela seria efeito e não causa do desenvolvimento. A China e a Coreia fizeram o contrário. Nos testes do Pisa de 2010, Xangai obteve o primeiro lugar nas três disciplinas avaliadas (leitura, matemática e ciência). Nos 65 países avaliados, a Corei a ficou peno. O Brasil se classificou entre os últimos.
Na China, a universidade pública não é gratuita, a não ser para quem prova não ser capaz de pagar mensalidades. Aqui, a gratuidade na universidade pública é geral, inclusive para os filhos dos ricos, os quais frequentam as melhores escolas e às sim têm maior acesso aos cursos mais valorizados.
Na China, a Universidade de Nottingham, da Inglaterra, foi autorizada a funcionar em Ningbo. Seus cursos são ministrados em inglês e o diploma é expedido por Nottingham. Algo semelhante seria difícil de acontecer no Brasil.
Na verdade, a China despertou de séculos de declínio. Na Idade Média, era metade da economia mundial, posição alcançada pelos Estados Unidos momentaneamente em 1945. Em 1820, seu PIB ainda era três vezes·a soma dos da Inglaterra, da França e da Holanda, então as três mais ricas nações da Europa.
Os resultados da política industrial voltada para as exportações e não para substituir importações foram espetaculares. Em 1978, quando começou a abertura de Deng Xiaoping rumo à economia de mercado, a China exportava 10 bilhões de dólares. Em 2010, as vendas externas atingiram 1,5 trilhão de dólares.
Em 1960, a Coreia era um país pobre, com renda per capita menor do que a de Gana e a do Brasil. Em 1980, medida pela paridade do poder de compra, a renda per capita brasileira (3400 dólares) ainda era maior do que a coreana (2 600 dólares). Dados de 2009: Coreia (27200 dólares), Brasil (10400 dólares) e Gana (l 500 dólares).
Apesar da ampla literatura sobre fracassos da substituição de importações, o modelo continua o favorito de segmentos que se opõem à abertura da economia. Empresários brasileiros defendem abertamente o fechamento. A Força Sindical pediu ao governo federal medidas protecionistas para reverter o ritmo das importações.
Não surpreende. Afinal, o modelo beneficiou empresários escolhidos pela burocracia e trabalhadores das indústrias protegidas. O custo foi transferido à agricultura, a outros setores e ao restante da força de trabalho.
Aqui perto é igual. A ministra da Indústria da Argentina. Débora Giorgi, comemorou as barreiras à entrada de produtos estrangeiros e o renascimento da estratégia de substituição de importações.
A China e a Coreia enriquecem na esteira de condições e políticas nas quais não costumamos acreditar. E o caso do empreendedorismo dos chineses e dos estímulos à inovação, que sobreviveram ao desastre comunista. Afinal, por volta do ano 200 eles já produziam ferro fundido, mil anos antes dos europeus.
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