sexta-feira, 18 de março de 2011

56 mil estrangeiros a mais

Vânia Cristino
Correio Braziliense



Porto seguro para profissionais do exterior, Brasil vê imigração crescer 30,5%. Área de petróleo e gás é atrativo


Ainda assustados pela crise mundial, mais e mais estrangeiros estão desembarcando no Brasil em busca de um porto seguro. Prova disso está no crescimento das autorizações concedidas para trabalho no país a pessoas de outras nacionalidades. De 2009 para 2010, a quantidade de imigrantes legais, com visto no passaporte, passou de 42.914 para 56.006 profissionais — um aumento de 30,5%. Dados do governo brasileiro mostram que, em apenas um ano, foram mais 13.092 trabalhadores vindos de fora, a maioria deles com autorização temporária (prazo de permanência entre 90 dias e dois anos).


O setor que mais vem demandando profissionais do exterior é o de óleo e gás (exploração na plataforma continental brasileira). “O aumento do número de autorizações tem relação direta com os crescentes investimentos feitos no país por empresas nacionais e estrangeiras”, explicou o coordenador-geral de Imigração do Ministério do Trabalho, Paulo Sérgio de Almeida. A exemplo dos trabalhadores, a entrada de equipamentos sofisticados, como navios do tipo sonda e de plataformas de perfuração, também foi intensa.


“Ao ingressarem no país, esses navios e plataformas estrangeiros acabam por incorporar profissionais às suas tripulações ao longo do tempo de permanência nas águas brasileiras”, disse Almeida. Entre os profissionais autorizados a trabalhar temporariamente no país em 2010, 15.206 tinham emprego a bordo de embarcação ou plataforma de bandeira internacional. Outros 12.838 vistos foram dados a trabalhadores contratados por navios de turismo de fora.


Americanos
O coordenador do Ministério do Trabalho atribui o salto no número de autorizações para tripulantes estrangeiros a bordo de embarcações de passeio ao crescimento exponencial do turismo no Brasil. “Anos atrás, esses trabalhadores não passavam de algumas centenas. A quantidade de vistos passou para o patamar de 8.000 em 2008 e 2009, e chegamos perto dos 13 mil no ano passado”, observou.


A maioria dos estrangeiros que vêm para o Brasil é de americanos. No ano passado, o visto de trabalho foi concedido para 7.750 cidadãos dos Estados Unidos. Em seguida, vêm Filipinas, com 6.531 autorizações, e Reino Unido, com 3.809. Entre os países do Mercosul, os argentinos são os que mais solicitaram autorizações. Em 2010, foram 644. Nos dados sobre a origem dos trabalhadores, o ministério produziu uma lista especificando 31 nações. Mas classificou também um contingente de 6.586 trabalhadores como provenientes de outros países, o que indica uma imigração generalizada ao país.


No ano passado, o visto de trabalho temporário foi concedido a 53.441 profissionais, 90% do total. O visto permanente foi liberado apenas para a minoria. O documento só é dado a administradores, gerentes e executivos, além de investidores pessoas físicas — aqueles que fixaram residência no Brasil e abriram um pequeno negócio no país. Acompanhando o aumento do interesse desses estrangeiros, o investimento também vem crescendo. Os valores foram da ordem de US$ 83 milhões em 2009 e alcançaram US$ 116,3 milhões em 2010.




The Economist critica lei arcaica
A revista britânica The Economist criticou, em reportagem publicada na edição de ontem, as leis trabalhistas brasileiras, mencionando que a pesada carga tributária sobre os salários e uma legislação “arcaica” vêm provocando um baixo crescimento produtivo no Brasil. Aos olhos da publicação, as regras nacionais, que chegam a reunir 900 artigos — inclusive constitucionais —, ainda têm inspiração em Mussolini, o político fascista italiano. A revista trouxe ainda dados de 2009 segundo os quais 2,1 milhões de brasileiros processaram seus patrões na Justiça do Trabalho, e informou que o custo anual para esse ramo do Judiciário passa dos R$ 10 bilhões. “Esses tribunais raramente favorecem empregadores”, disse o texto.


Indústria volta às demissões
Cristiane Bonfanti

A invasão de produtos importados no Brasil, fruto do dólar barato, jogou um novo balde de água fria na indústria, que não conseguiu acompanhar o crescimento do país na criação de vagas de trabalho. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, em janeiro, o emprego industrial repetiu a queda de 0,1% observada no mês anterior. O resultado veio depois de um crescimento de 0,1% no pessoal ocupado em outubro e em novembro do ano passado.


Com o real supervalorizado, não apenas a população passa a consumir itens importados, mas os próprios fabricantes começam a buscar fornecedores externos, a exemplo do que ocorre no setor metalúrgico, por conta dos preços dos metais no exterior. Produtos como vergalhões, fio-máquina e aços chegam ao país, muitas vezes, 40% mais baratos do que os oferecidos internamente.


“Além do câmbio, contribuem para a desaceleração da indústria as medidas de restrição ao crédito e de elevação da taxa básica de juros tomadas pelo Banco Central. O dólar desvalorizado aumenta a concorrência dos importados, de um lado, e desestimula as exportações, de outro”, ponderou Fernando Abritta, economista da Coordenação de Indústria do IBGE.


Papel e gráfica
Para Leonardo dos Santos, da Austing Ratings, os resultados de janeiro refletem também um desaquecimento comum nos períodos de fim e início de ano. “Com contas como IPVA e IPTU para pagar, a população compra menos. Conhecendo esse comportamento, as fábricas dedicam-se a fazer o planejamento estratégico do ano, em vez de intensificar a produção”, disse o economista.


A despeito da estagnação nos últimos quatro meses, Abritta destacou, contudo, que o número de pessoas ocupadas na indústria cresceu 2,7% na comparação com janeiro do ano passado. Nos últimos 12 meses, o crescimento foi de 3,7% — o resultado mais elevado desde 2002, quando esse cálculo começou a ser realizado.


Em relação a janeiro de 2010, o estudo do IBGE mostrou aumento do pessoal empregado em 12 dos 18 ramos pesquisados. As principais contribuições positivas vieram das atividades de meios de transporte (8,2%), produtos de metal (8,9%), máquinas e equipamentos (7,4%), aparelhos eletroeletrônicos e comunicações (7,6%) e metalurgia básica (9,0%). Papel e gráfica (-8,1%) e vestuário (-2,8%) foram, por sua vez, os setores com maior impacto negativo no primeiro mês do ano.




Salários sobem
Apesar das demissões na indústria, o salário real dos trabalhadores aumentou 5,1% em janeiro, em relação a dezembro, após um acúmulo de 4,4% de queda nos últimos dois meses de 2010. Em comparação com janeiro do ano passado, o valor da folha de pagamento avançou 7,1%. Fernando Abritta, economista do IBGE, explicou que a melhoria nos rendimentos reflete o pagamento de benefícios como 13º salário, férias e participação em lucros e resultados.
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