quarta-feira, 30 de março de 2011

Duas questões que atormentam as empresas


Por Jack Welch com Suzy Welch 
Exame.com.br

"Embora minha empresa pertença a um setor muito competitivo e nós tenhamos de nos mover rápida e decisivamente, notei que as pessoas raramente dizem o que pensam umas das outras -- especialmente em reuniões. É uma falação inútil e uma falsidade geral. O que podemos fazer a respeito disso?"
Leitor de uma empresa de tecnologia
O que você descreve é um dos problemas mais comuns e destrutivos nas empresas e, aliás, na sociedade -- a falta de franqueza. Em todos os lugares por onde viajamos, ouvimos falar de empresas cujo ritmo foi reduzido e que depois foram paralisadas pela tendência humana de amenizar mensagens duras, urgentes, com um tom de falsa bondade ou de falso otimismo. Essa tendência fica especialmente em evidência quando se trata de comunicar um mau desempenho. Com freqüência, os chefes não se dirigem diretamente aos que tiveram má performance para dizer como eles se saíram mal. Até que, numa explosão de frustração, eles os demitem. Isso é terrivelmente injusto com o funcionário e, muitas vezes, prejudicial à própria empresa.

Mas a falta de franqueza não permeia apenas as avaliações de desempenho. Ela atrapalha muitas conversas -- muitas delas sobre como e quando empregar os escassos recursos da companhia. Sim, esse tipo de conversa pode ser dura, sensível, politicamente carregada, complexa -- ou todas essas coisas ao mesmo tempo. Mas ela será melhor se for sincera.

Assim, o que você pode fazer? A única maneira é ter coragem suficiente para começar você mesmo a usar de franqueza, mesmo se o seu poder dentro da companhia for limitado. Quando as pessoas usarem palavras dúbias, devolva com perguntas que eliminem as bobagens e busquem os fatos. Pergunte: "O que você está tentando realmente dizer?" Ou diga: "O que eu estou entendendo do que você disse é..." e transmita a mensagem direta você mesmo, para confirmação.

É claro que introduzir sinceridade em uma empresa não é uma tarefa sem riscos. Na verdade, pode ser um choque total para o sistema. E ser o primeiro a usar a franqueza pode acabar com você -- isto é, você pode ficar marginalizado e até ser despedido. Caso você decida "tornar-se franco" mesmo assim, vá devagar e use o humor sempre que possível. Na melhor das hipóteses, sua franqueza poderá eventualmente ser recompensada trazendo franqueza de volta -- e, às vezes, a mudança é mais rápida do que você poderia imaginar. Assim que experimentam a franqueza, muitas pessoas não conseguem mais imaginar como conseguiram fazer negócios sem ela.

"Passamos a década de 80 sendo surrados pelos japoneses, mas retornamos com força na década de 90, com melhorias de processos que reduziram nossos custos. No entanto, nos últimos dois anos, estamos sendo superados em vendas pela China. Estou frustrado. Como podemos mudar essa situação?"
Funcionário de uma empresa manufatureira de porte médio

A China é uma grande oportunidade e uma enorme ameaça. Mas, no curto prazo e na sua situação em particular, devemos nos concentrar no segundo ponto, o da ameaça. Você não estará sozinho. As vantagens competitivas dos chineses -- em especial, os custos de mão-de-obra -- são espantosas, mesmo para produtores de países que anteriormente tinham mão-de-obra barata, como a Hungria e o México.

As mudanças na economia global causadas pela política ou por novas tecnologias podem desintegrar empresas e até desequilibrar setores inteiros. Isso é a realidade, e está acontecendo há muito tempo. Mas não significa que a China já venceu esse jogo. Significa que você terá de lutar mais e de maneira mais inteligente.

Como? Não há atalhos nessa situação. Para vencer agora, você tem de concentrar todas as energias na melhoria dos pilares fundamentais para o sucesso nos negócios: custo, qualidade, serviços. E você não pode apenas melhorá-los. Você precisa levá-los a seu nível máximo, certificando-se de que todos em sua empresa entendam que fazer isso é uma questão de sobrevivência.

Custos em primeiro lugar. Busque em toda parte, dentro e fora da empresa, as melhores práticas que vão melhorar radicalmente os processos e a produtividade. Sua meta não pode ser uma melhoria incremental.

Se você planeja competir em termos de preço, deve fazer com que sua equipe reduza de 30% a 40% os seus custos. Mesmo com outra vantagem competitiva, como tecnologia proprietária, seus custos têm de cair mais do nunca. E mais rapidamente também. Na questão da qualidade, você não pode mais se dar ao luxo de ter mentalidade "quebrou-consertou".

Livre-se de todo e qualquer defeito antes que ele chegue ao cliente. A qualidade dos chineses ainda não é perfeita, mas está melhorando dia após dia.

Quanto aos serviços, mais uma vez, quebre os paradigmas de seu setor ou de seu mercado com inovações. Encontre formas de ir além da satisfação de seus clientes. O que você quer é que eles o achem tão indispensável que não possam nem imaginar comprar de um concorrente seu. Seu "inimigo" neste momento pode parecer a China, mas, em última análise, o inimigo de qualquer empresa hoje é a letargia. No mercado global, você não pode apenas reproduzir as mesmas coisas antigas, da mesma forma de sempre.

Vencer tem a ver com custos, qualidade ou serviços diferenciados. Com suas enormes vantagens competitivas, a China é, definitivamente, um jogador que está mudando o jogo, mas as antigas alavancas ainda funcionam. Você só tem de empurrá-las com mais força do que nunca. 
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