quinta-feira, 17 de março de 2011

ITACURUBA E A ENERGIA NUCLEAR

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

A revelação do Blog de Jamildo de que Itacuruba, a 470 km do Recife, será o lugar escolhido para a instalação da primeira usina nuclear do Nordeste destaca a presença daquele pequeno município no mapa do Estado. É imensurável o impacto de um empreendimento de R$ 10 bilhões numa cidade com pouco mais de 4 mil habitantes. É verdade, Itacuruba é, também, sede de um observatório astronômico e tem um rico artesanato, mas nada disso lhe deu uma fração da notoriedade que acaba de conquistar, apenas com o anúncio de que poderá sediar uma usina nuclear. 

Confirmada a escolha, no primeiro momento deverá pesar sobre Itacuruba o fantasma de Chernobil, na Ucrânia, que está completando 25 anos. Ali se luta hoje para exorcizar os fantasmas de 26 de abril de 1986, dia do pior acidente da história da energia nuclear, de que resultou uma nuvem radioativa que deixou em pânico a União Soviética, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido. A contaminação liberada por Chernobil foi 400 vezes a da bomba lançada sobre Hiroshima, no Japão, quando chegava ao fim a Segunda Guerra Mundial. E desse tremendo desastre testemunha hoje Prypiat, a cidade fantasma onde fica a central nuclear. 

Tão distante no tempo e no espaço, o que o acidente da Ucrânia tem a ver com Itacuruba? Pouco, do ponto de vista científico. Acredita-se que esse quarto de século do grande acidente serviu, entre muitas outras coisas, para se chegar a índices de segurança extraordinários. Quando se deu a explosão de Chernobil, houve uma retração mundial no processo de instalação de usinas – a Itália suspendeu todo programa para geração de energia nuclear – mas de lá para cá foram avançando os estudos de segurança e em alguns países, como a França, a energia gerada por meio da fissão nuclear representa 80% da energia consumida pelos franceses. A evolução nos sistemas de segurança levou a custos monumentais para garantir a retomada de programas em todo o mundo, inclusive no Brasil, estagnado com Angra 1 e Angra 2, agora a caminho de Angra 3 e novas usinas, das quais duas no Nordeste.

Se efetivamente a primeira usina nuclear nordestina vier a ser instalada nesse sertanejo, certamente cairão sobre ele todas as advertências de ambientalistas que fazem eco, com o Greenpeace, sobre o pior dos pesadelos que, entendem, chegam com a energia nuclear. Entretanto, haverá vozes com muita autoridade a favor. Uma delas é do ambientalista inglês James Lovelock, considerado um dos maiores cientistas dos tempos atuais. Ele diz que nenhuma fonte de energia é totalmente segura e que os perigos de continuar a queimar combustíveis fósseis (petróleo, gás, carvão) como a principal fonte são maiores e não ameaçam apenas os indivíduos, mas a própria civilização. Em 2004, ele surpreendeu ambientalistas ao afirmar que “só a energia nuclear pode deter o aquecimento global” e é uma alternativa realista aos combustíveis fósseis para suprir a enorme necessidade de energia da humanidade, sem aumentar a emissão de gases causadores do efeito estufa.

Os ambientalistas que se escandalizaram com as declarações do cientista britânico apontam para as energias eólica e solar como as mais apropriadas, principalmente em regiões como o nosso Nordeste. Depois de fazer aquela declaração que surpreendeu a todo mundo, Lovelock deu entrevista a uma revista brasileira, onde afirmou que seria ótimo se pudéssemos contar somente com essas fontes de energia, mas elas não satisfazem nossas necessidades. Se houvesse 1 bilhão de pessoas no mundo, bastaria usar as energias solar, eólica, hidrelétrica e uma quantidade modesta vinda da queima de madeira. 

Há um caminho muito longo ainda a ser percorrido para que o Nordeste venha a ter sua primeira usina nuclear, ultrapassando, em muito, o período de governo de Dilma Rousseff, a quem caberá a palavra final – pela escolha, ou não, de Itacuruba. Mas para Itacuruba essa possibilidade ganha importância pelo percurso, que representaria, do ponto de vista econômico, uma revolução para a economia sertaneja, com repercussão em todos os setores, e um componente a mais para manter o impulso que Pernambuco vem tendo nos últimos quatro anos.
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