segunda-feira, 28 de março de 2011

Dinheiro, reconhecimento e celebração - motores da motivação


Por Jack Welch com Suzy Welch
Exame.com.br

1 - Motivar as pessoas é o maior desafio que enfrentamos hoje no nosso negócio. Qual seria a melhor forma de motivação?
Vijay Naik, Gaborone, Botsuana

Você quer dizer além do dinheiro, certo? Parta desse pressuposto porque, como chefe, você já deve ter percebido que não há melhor combustível do que o dinheiro para acender a chama da motivação -- mesmo que seus subordinados digam que não dão a mínima para ele! Não vale a pena me estender sobre isso: é fato mais do que sabido que o dinheiro tem o poder de energizar as pessoas. Também não vou discorrer sobre outros elementos tradicionais de motivação, como a realização de atividades interessantes e a convivência com colegas de trabalho agradáveis.

Mas, se para motivar alguém bastasse adotar os três recursos citados, não haveria esse grande desafio que você corretamente aponta em sua pergunta. Portanto, o que mais podemos fazer? Felizmente, há outras quatro formas de motivação à nossa disposição -- nenhuma delas tem a ver com dinheiro e são todas muito eficazes. A primeira é muito simples: reconhecimento. Sempre que alguém ou uma equipe fizer algo notável, reconheça o feito com muito alarde. Divulgue, toque no assunto todas as vezes que tiver oportunidade. Dê prêmios.

Quando faço essa recomendação às empresas, quase sempre surge alguém preocupado com aqueles que não realizaram nada de especial. Eles podem ficar magoados, dizem, ou desmotivados diante de tanta festa. Isso é ridículo. É como se fosse obrigação passar a mão na cabeça dessas pessoas. Se há na empresa gente qualificada -- isto é, uma equipe competitiva e entusiasmada --, o reconhecimento público simplesmente determinará um novo nível de excelência para todos. Mais uma observação sobre a importância do reconhecimento, sobretudo quando vem na forma de um objeto de recordação com o nome dos envolvidos gravado. Esse tipo de lembrança é bom, tem seu lugar, mas não se deve concedê-lo em lugar de dinheiro. Placas funcionam como complemento -- no mais, só fazem juntar pó. Já um cheque pode ser descontado. A maior parte dos empregados sabe muito bem a diferença entre uma coisa e outra.

A segunda forma de motivação pode parecer simples, mas não é: celebração. Em minhas palestras, peço às pessoas da platéia que informem se sua empresa celebra os sucessos alcançados com a devida empolgação. De modo geral, menos de 10% dos presentes respondem positivamente. Quantas oportunidades perdidas! Celebrar as vitórias obtidas ao longo de um processo é uma maneira extremamente eficaz de manter as pessoas envolvidas o tempo todo. E não me refiro aqui apenas à celebração de grandes conquistas -- estamos falando de eventos que são verdadeiros marcos, como o recebimento de uma ordem de compra fora do comum ou uma maneira nova de fazer as coisas que resulta em elevação da produtividade ou em maior satisfação do cliente. Todos esses pequenos sucessos são oportunidades de nos congratularmos com a equipe e de fortalecer o seu moral, preparando-a para os desafios que virão a seguir.

A celebração a que me refiro nada mais é do que outra forma de reconhecimento, porém mais divertida. Pode ser uma festa-surpresa no próprio escritório, à tarde. Podem ser ingressos para uma partida de futebol ou para um filme. Quem sabe premiar os profissionais que mais de destacaram com entradas para a Disney World, ou para o zoológico de San Diego, ou ainda para a Rose Bowl Parade... qualquer coisa, enfim, que tenha um impacto duradouro sobre eles.

A próxima ferramenta motivacional é sem dúvida alguma poderosa, mas só poderá ser usada se você tiver plena clareza de sua missão. E aí talvez você se pergunte: "Então nem sempre o chefe sabe exatamente qual a sua missão?" Nem sempre. Na verdade, durante as diversas viagens que fiz em todos esses anos, descobri que muitos líderes estão invariavelmente ocupados demais com seus afazeres diários, a tal ponto que acabam por relegar a segundo plano sua missão. É inevitável, naturalmente, que de vez em quando as crises desviem nossa atenção da missão a que nos propusemos. Contudo, para seguir em frente, é preciso que a equipe entenda a direção proposta e acredite nela. O objetivo visado deve ser partilhado por todos. É isso precisamente o que uma grande missão dá às pessoas: um credo ousado e inspirador capaz de seduzir o coração e a alma.

É a existência de uma missão que permite a um chefe dizer: "Vejam, lá está a colina. Vamos tomá-la juntos!" Esse, sim, é um verdadeiro apelo motivador. A última forma de motivar é provavelmente a mais difícil de pôr em prática. É verdade que muitos chefes a trazem consigo como parte do "toque" especial de que são dotados -- mas, para os menos experientes, é tarefa muito árdua. Refiro-me à criação de um ambiente de trabalho com um equilíbrio exato entre realizações e desafios. As pessoas precisam de certa percepção de sucesso para se sentir motivadas no trabalho. Porém, elas também se entediam se não forem testadas -- ou seja, se não estiverem aprendendo e crescendo. Em outras palavras: os indivíduos se sentem motivados quando parecem estar no alto da montanha, mas precisam sentir igualmente que continuam a escalá-la. Simplificando, o chefe que gera empregos com esse tipo de tensão interna conta com uma vantagem competitiva concreta. Seu pessoal tem uma razão a mais para se sentir motivado, e isso transparece em seu desempenho.

Bem, voltemos à questão do dinheiro. É claro que há pessoas que não se empolgam com recompensas financeiras, mas elas raramente seguem carreira no mundo dos negócios. Por isso, sempre que você pensar em motivação, pense primeiramente em algum tipo de retorno financeiro. Lembre-se, porém, de que nem sempre o mais importante é o quanto você dá às pessoas -- na maior parte das vezes, importa mais o quanto você dá a elas em relação ao que foi dado a seus colegas de trabalho. Ao conversar recentemente com um profissional de um banco de investimentos, indaguei como havia sido seu ano. Ele estava, obviamente, muito satisfeito com o valor do bônus que recebera, mas sua satisfação era ainda maior quando o comparava ao dos demais executivos do alto escalão da empresa. O dinheiro é uma forma de contabilizar pontos, e a pergunta "Quem é melhor, ou quem é o melhor?" parece manter muita gente ocupada o tempo todo.

Dito isso, é bom frisar que até mesmo os banqueiros de investimentos -- pelo menos alguns deles -- preocupam-se também com outras coisas além do dinheiro. Pouquíssima gente boa permanecerá em um emprego em que o dinheiro é o único atrativo. Essas pessoas querem o dinheiro e mais a sensação de que fazem alguma diferença. Todo ser humano tem necessidade de se sentir útil. Para as pessoas, as 8 horas que passam no trabalho -- muitas vezes até mais -- precisam ter algum significado. Felizmente, é possível mostrar a elas seu valor agradecendo-lhes publicamente pelo trabalho realizado, injetando um pouco de bom humor no ambiente, cultivando um objetivo comum que entusiasme a todos e dando atenção individualizada aos desafios próprios de cada um.

Todas essas coisas estão ao alcance de qualquer chefe -- e o melhor de tudo é que são de graça. O retorno, porém, é incalculável.
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