RANETO FERRAZ
Correio Braziliense
Costumo dizer neste espaço que o Estado brasileiro é fraco. Não o é de origem, mas porque a consciência do cidadão brasileiro ainda tende a um simplismo exagerado na interpretação de problemas. E o Estado reflete isso. Somos, por exemplo, superficiais e ficamos satisfeitos com as aparências — características antagônicas às da consciência crítica, inquieta, indagadora. Por isso, volta e meia nos deparamos com situações assustadoras — que, bem analisadas e depuradas, teriam efeitos graves. E isso vale do veto judicial à aplicação da Lei da Ficha Limpa, pedida pelo povo, às graves trocas de acusações entre políticos locais e as estranhas declarações dadas pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em São Paulo. Segundo ele, alguns governos fazem acordos com o crime organizado.
Bem, genericamente, sabemos: o STF é uma casa política, a tática de atacar contra-atacando na política é emburrecedora, mas corriqueira, e já foi constatada a chegada de criminosos ao poder oficial (não necessariamente com cargos). Mas um ministro de Estado — ainda mais o da Justiça — pode dizer isso? Sem provar? Sem apresentar um plano para acabar com o fenômeno? Em alguns estados, como Mato Grosso e Espírito Santo, foram descobertos casos promíscuos entre traficantes, bicheiros, juízes, parlamentares. Sim, sim: a Justiça avalia essas e outras tantas denúncias. Mas esse é outro problema. Provavelmente, como também é sujeito a pressões externas e a interesses particulares inconfessáveis, o burocratismo judicial guarda em gavetas empoeiradas, ou HDs lotados, o gene da impunidade.
Agora, cabe ao ministro ajudar a mostrar que o governo — e não necessariamente o Estado — não é tão insuficiente quanto parece: fraco na condução das relações de consumo, fraco na regulação de bancos, fraco na definição de políticas públicas de saúde e de desenvolvimento e, agora, certamente fraco para evitar que o crime organizado se instale definitivamente numa máquina estatal regida por uma burocracia leniente, embora quisesse poder dizer desonesta e totalitária. Ora, para se combater o crime “organizado” — por quem? onde? — é fundamental que se diga: o senhor, ministro, sabe que é na medida em que é ou pelo que parece?
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