MERVAL PEREIRA
O GLOBO
Em 2022 o Brasil fará 200 anos como nação independente, e a data já se transformou em referência para se pensar estrategicamente o futuro do país. É com essa visão que os economistas Fábio Giambiagi, do BNDES, e Claudio Porto, presidente da consultoria Macroplan, organizaram o livro "2022: propostas para um Brasil melhor no ano do bicentenário" (Elsevier/Campus), que será lançado dia 31 no Rio e dia 4 de abril em São Paulo.
O livro reúne reflexões de 31 expoentes do pensamento nacional sobre a evolução recente e a situação atual do país, e apresenta propostas concretas para que o Brasil chegue em 2022 a um estágio superior de desenvolvimento.
O Brasil que elegeu em 2010 a primeira presidente mulher de sua História está entrando em seu 26º ano de democracia, o mais longo período consecutivo na História política do país, o suficiente para que mudanças se cristalizem e passem a fazer parte da História.
É um espaço de tempo suficiente também para implantar mudanças estruturais em um país, dentro de um processo permanente de avanços que estamos vivendo, apesar de alguns retrocessos.
Dos avanços conquistados, o livro destaca a consolidação da democracia, progressos sociais inquestionáveis e a transformação econômica e institucional digna de país maduro.
Outros pontos relevantes são a estabilização, o fim da hiperinflação da economia, alcance de capacidade para se financiar mediante a entrada de investimentos, redução do endividamento externo líquido e obtenção da confiança dos investidores estrangeiros.
Apesar das vitórias, os organizadores do livro alertam, à moda dos bancos de investimento, que os ganhos passados não são garantia de repetição da performance no futuro.
Ambos classificam as carências e desafios que o país tem pela frente de "maiúsculos": baixos níveis de investimento, taxa de inflação ainda elevada para parâmetros internacionais, escassez de poupança interna, deficiências graves de infraestrutura e nos sistemas logísticos, baixa capacidade de inovação, restrições à competitividade sistêmica (burocracia, legislação, carga tributária, brechas regulatórias) e má qualidade do gasto público. Além disso, consideram "preocupante" a situação de degradação do meio ambiente e, ainda mais grave, os níveis flagrantemente insatisfatórios dos indicadores educacionais e baixo nível de capacitação da população, assim como a proporção "ainda inaceitavelmente elevada" de pessoas pobres e extremamente pobres (1/5 da população é composta por pobres, e 1/10, por extremamente pobres).
Para Porto, cuja consultoria tem especial apreço por análises de cenários futuros, o livro é uma contribuição para a reflexão prospectiva de longo prazo, que se mostra ainda escassa no Brasil. "Temos uma cultura imediatista e há ênfase excessiva no curto prazo", comenta.
Com este pano de fundo, Porto, Giambiagi e Andréa Belfort descrevem diferentes cenários que o Brasil pode vir a percorrer nos próximos 11 anos.
Para o estudo foram montados quatro cenários, sempre levando em conta a presença do Estado na economia, pois consideram que é certo, ou quase, que, no horizonte dos próximos dez anos, o Estado continuará a ter peso econômico relevante na economia nacional.
No primeiro cenário, denominado "De volta aos anos 70", o Brasil faz ajustes na economia tendo como pilar a presença ativa do Estado na economia, em face de um cenário externo desfavorável, com riscos de ciclos de crise econômica e recrudescimento do protecionismo. O país mantém uma trajetória de crescimento razoável ? entre 3% e 4%.
Outra possibilidade é o cenário "Capitalismo chinês à brasileira", no qual a economia global oferece amplas possibilidades para países emergentes mais bem posicionados. O cenário mostra o Brasil com forte inserção econômica global, mas também presença ampla do Estado na economia. A trajetória de crescimento sustentado se mantém entre 4 e 5%.
O terceiro cenário, "Um choque ortodoxo de capitalismo", do ponto de visa político parece pouco provável, mas pode ocorrer na medida que o equilíbrio fiscal tornar-se muito ameaçado e houver reação dos agentes econômicos e políticos no sentido de um ajuste competitivo. Neste cenário, o Brasil faz fortes ajustes no seu modelo econômico, mantendo presença seletiva do Estado na economia, para garantir ampla inserção econômica global. O país segue uma trajetória de crescimento entre 4,5% e 5,5%.
O último cenário, "Um novo recolhimento", é o menos provável e antecipa uma trajetória de dificuldades crescentes no mundo que obrigam o Brasil a fazer fortes ajustes no seu modelo econômico. O Estado passa a ter presença moderada na economia, e o país tem uma inserção econômica global limitada. A trajetória de crescimento positivo gira entre 2% e 3%.
Também a economista Monica de Bolle, autora de outro capítulo do livro, indica a possibilidade de caminhos distintos para o país no ano do Bicentenário da Independência. Analisando o cenário mundial e seus impactos para o Brasil em 2022, afirma que é possível vislumbrar tanto um cenário "otimista", marcado por um esforço de ajuste, com o setor público reduzindo os gastos correntes como proporção do PIB, quanto um "sombrio", com o retorno do intervencionismo estatal e expansão do crédito público.
Para ela, há uma possível bifurcação da economia brasileira diante dos desafios impostos pelo quadro global: "Cabe ao governo decidir se quer continuar a aprofundar as reformas institucionais e macroeconômicas dos últimos 15 anos, que construíram as bases da prosperidade recente, ou retornar às velhas políticas intervencionistas, cujos resultados costumam ser, na melhor das hipóteses, ruins, e na pior, desastrosos", diz ela.
Para que o Brasil siga a trajetória dos melhores cenários até 2022, Porto e Giambiagi propuseram algumas metas para que o país aproveite a janela de oportunidades que anteveem:
- Meta de crescimento médio: 4,5 % a.a.;
- Inflação em 2022: 3% (previsão 2011: 5%);
- Taxa de investimento em 2022: 24% do PIB (previsão 2011: 19%);
- Poupança doméstica em 2022: 22-23% do PIB (previsão 2011: 16%);
- Proporção de pobres em 2022: 5% (previsão 2011: 20%);
- Proporção de extremamente pobres em 2002: 0% (previsão 2011: 7%).
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