terça-feira, 22 de março de 2011

As empresas existem para seus acionistas


Por Jack Welch com Suzy Welch
Exame.com.br

Quem é o dono da empresa? Filosoficamente falando, claro, não juridicamente. Algumas pessoas dirão que a empresa pertence aos acionistas. Outras, que pertence aos empregados. Alguns dirão que ela existe para atender às necessidades dos clientes. Qual a sua opinião?
(Tomohiro Horibe, Saitama, Japão)

A empresa pertence aos acionistas. Eles são os donos dela. Eles a controlam. É assim que é, e é assim que deve ser. Não entenda mal esse jeito abrupto de falar. Sua pergunta não é nem um pouco difícil de responder. Na verdade, ela está no âmago de um debate persistente sobre o conceito de "propriedade da empresa" ou, de modo mais amplo, daquilo a que se chama de "voz".

O debate em torno da "voz" é complexo e controvertido. Pode-se ouvir os defensores do politicamente correto começando a bufar neste momento -- e muitos grupos ativistas querem ser ouvidos quando se trata de políticas empresariais.

Os líderes trabalhistas, por exemplo, dirão a você que empresa alguma poderia funcionar sem os empregados, e mesmo assim eles ganham muito menos do que os executivos. Será que os trabalhadores não mereceriam uma fração maior do bolo e assim corrigir essa disparidade? Políticos eleitos discursarão sobre a responsabilidade da empresa sobre os moradores locais afetados pelo trânsito, pela poluição ou pela desvalorização de seus imóveis. Será que a comunidade não deveria receber algum tipo de indenização pelos prejuízos causados a ela? Os ativistas sociais lembrarão que os fortes e poderosos têm de se preocupar com os fracos e menos favorecidos. A empresa não deveria obedecer aos ditames do código moral?

Sim, sim e sim -- em princípio.

Contudo, o problema é que em várias dessas reivindicações em que a "voz" se faz ouvir, mesmo que amparada por elementos legítimos, há intenções ocultas por trás das reivindicações explícitas que se propalam. E o pior é que tais intenções, muitas vezes, pouco têm a ver com a realidade daquilo que uma empresa faz. Os sindicalistas freqüentemente investem contra as empresas -- a despeito das práticas trabalhistas das companhias -- como parte de uma campanha sem fim para aumentar o número de membros de suas instituições e, por conseguinte, de seu caixa. Os políticos, ao demonizarem o que parece ser um inimigo rico e de grande visibilidade, fazem dele um trampolim que lhes garante publicidade e apoio popular -- mesmo que esse inimigo rico e de grande visibilidade esteja criando empregos e proporcionando receitas fiscais à comunidade. Os ativistas sociais sempre miram as empresas para conseguir atenção e levantar dinheiro para sua causa, valendo-se, possivelmente, dos meios mais desprezíveis para isso. A mídia adora uma bela assembléia de acionistas tumultuada, mesmo que apenas um ou dois manifestantes profissionais, donos de algumas poucas ações, estejam gerando toda a balbúrdia reinante.

Dada a diversidade de intenções ocultas que rodeiam as empresas, elas podem acabar vítimas de uma confusão paralisante se começarem a dar atenção aos inúmeros indivíduos que reivindicam algum tipo de interação com ela. Isso não significa que não se deva dar ouvidos a esses grupos. As empresas vivem ou morrem por causa de empregados engajados e clientes satisfeitos. É claro que ambos têm de ser ouvidos. As empresas fazem parte de uma comunidade e devem agir como agiria qualquer bom vizinho. Por fim, elas pertencem a uma sociedade e precisam aceitar as responsabilidades que advêm da cidadania.

Acontece que o capitalismo -- em que as ações têm donos -- reforça tudo isso. E por quê?

Porque o capitalismo baseia-se no princípio de que os acionistas desejam o sucesso da empresa. Para os acionistas, o melhor dos mundos é que a companhia tenha lucro sempre. Esse lucro contínuo proporciona exatamente os mesmos resultados já mencionados: clientes satisfeitos, empregados engajados, comunidades prósperas e sociedades sadias.

Bem, os críticos do capitalismo gostam de ressaltar que algumas empresas não dão a mínima para o grande princípio do capitalismo. Eles dizem que a administração quer o retorno máximo hoje -- e não daqui a dez anos. Para alcançar esse objetivo, espremem os empregados e acabam por destruir o meio ambiente (ou cometem algum outro crime social) para obter gordos lucros o mais rápido possível. Segundo esses críticos, para piorar ainda mais a situação, muitas empresas pagam salários astronômicos aos executivos para que produzam resultados no curto prazo. No fim das contas, observam, a ganância humana é o grande defeito do sistema capitalista.

Outra crítica cada vez mais comum ao capitalismo diz respeito à tendência crescente dos acionistas de comprar ações e de passá-las adiante rapidamente. Costuma-se dizer que esse tipo de público, constituído em boa medida por fundos de investimento de todos os matizes, não dá a menor importância ao crescimento e à lucratividade de longo prazo. Os investidores que buscam retorno rápido, porém, não irritam apenas os ativistas. As empresas também os repudiam -- basta ver o debate atual em torno da obrigatoriedade ou não de um período de retenção antes da concessão do direito a voto. O período de retenção pode, de fato, tranqüilizar alguns críticos nesse aspecto, mas sempre haverá grupos movidos por interesses não explícitos investindo contra o capitalismo.

É óbvio que o capitalismo tem falhas. Contudo, permite que esses críticos, impulsionados por propósitos ocultos ou não, possam ser ouvidos no mercado e na mídia. A "voz", entretanto, não tem a ver com propriedade; ela tem a ver com influência.

Finalmente, chegamos à conclusão de que a resposta jurídica e filosófica à sua pergunta é uma só e a mesma. A empresa existe para servir às pessoas que elegeram o conselho de administração, que, por sua vez, escolhe os administradores que comandam a empresa.

Ela existe para seus proprietários.

(Jack e Suzy Welch são autores do best-seller internacional Paixão por Vencer. Para fazer perguntas aos autores, escreva para agendadolider@abril.com.br)
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