sexta-feira, 18 de março de 2011

Alerta para quem odeia seu chefe

Por Jack Welch
Exame.com.br

1 - Eu e minha esposa observamos quase sempre muita incompetência, resignação diante de decisões equivocadas e falta explícita de profissionalismo em algumas das companhias que aparecem no ranking das 500 melhores de Fortune. Sabemos disso porque trabalhamos em empresas listadas pela revista. Por que será que é tão difícil achar um gerente que a gente possa respeitar, obedecer e que possa nos ensinar alguma coisa?
(Eric Hoagberg, Barrington, Illinois) 
Não é difícil, mas para isso é preciso ter a mentalidade certa -- do tipo que você muito provavelmente não tem. Aliás, para seu consolo, pouca gente tem. Toda semana chegam numerosos e-mails muito parecidos com o seu. As palavras e os detalhes são diferentes, é claro, porém a pergunta subjacente é sempre a mesma: por que só eu consigo perceber essas coisas? Bem, sabemos que há dias em que todo mundo à nossa volta parece incompetente. As empresas, afinal de contas, são constituídas de pessoas, e as pessoas costumam "pisar na bola", premiar a mediocridade, jogar conforme a política que mais lhes convém, além de cometer inúmeros outros pecados corporativos.

Contudo, essa perspectiva segundo a qual todos são tolos menos eu é perigosa. Não só porque é letal para a carreira, mas também porque não é correta. Se fosse, como explicaríamos a existência de uma indústria de serviços financeiros próspera e criativa? Ou então o campo fabuloso das ciências da vida? Uma gama de empresas obtém ótimo desempenho. Inventam, produzem, vendem e distribuem milhões de produtos e serviços, e colhem em troca bilhões de dólares em lucros. Portanto, não é possível que os gerentes dessas empresas sejam todos uns incompetentes. Não é verdade. Pense um pouco na maneira como você raciocina, e tente descobrir se não existe no seu pensamento uma atitude que talvez explique a visão pessimista que você tem da forma como o mundo funciona. Em outras palavras, será que você não é do tipo que odeia o chefe?

É bem verdade que pouca gente admite isso. As pessoas costumam se achar vítimas impotentes, do tipo que "fala a verdade aos poderosos". É preciso dar um basta nisso. Esse indivíduo, que odeia o chefe, existe de fato. Não importa onde trabalhe -- grandes companhias, pequenas empresas familiares, sociedades, instituições sem fins lucrativos, jornais ou agências do governo. O sujeito que abomina a chefia sempre se relaciona com a autoridade com uma dose de cinismo que mal consegue reprimir, além de uma negatividade profundamente arraigada contra o "sistema". Embora a motivação por trás dessa atitude talvez não seja de um único tipo apenas -- pode ser fruto da criação, da personalidade ou de inclinações políticas --, essas pessoas caracterizam-se por um ponto em comum: sua incapacidade de detectar algum valor em seus superiores hierárquicos.

É interessante observar que esses indivíduos sempre acabam se encontrando dentro da empresa, seja ela de que tipo for. À medida que o número de insatisfeitos cresce, eles se tornam também muito mais explícitos em suas críticas. Essas pessoas, geralmente, têm o QI elevado. É pena que não o aproveitem. Porque em vez de usar sua inteligência para sair em busca de novas idéias e aperfeiçoar a forma como o trabalho é feito, esses indivíduos se concentram de modo implacável em todas as falhas da companhia e na estupidez simplesmente incompreensível da chefia. Naturalmente, graças à sua inteligência, alguns desses indivíduos prosperam -- mas por pouco tempo. Na maior parte das vezes, a empresa percebe a maneira de ser dessas pessoas. Os chefes reagem então no mesmo tom, distanciando-se delas ou tomando uma atitude mais contundente. Talvez você não seja do tipo que odeia o chefe. Mas a natureza abrangente de sua pergunta passa muito essa idéia. Faça um teste com você mesmo: será possível que todo chefe com quem você topou era de fato um problema? Ou será que o problema não poderia ser sanado se você simplesmente abrisse sua mente?

2 - Fui contratado para uma posição de liderança em uma nova empresa. Gostaria de levar comigo alguns profissionais da minha antiga companhia. Trabalhávamos bem juntos, e eles são competentes. Como devo agir?
(Aakash Ganju, Bangalore, Índia)

A idéia é tentadora, porém ar dilosa. A resposta, em resumo, é a seguinte: depende. Se você tiver de administrar uma empresa que precisa de uma reviravolta rápida em um ambiente de mudanças, e se além disso tiver de lidar com o fardo de uma cultura que não incita as pessoas à ação, seria uma atitude inteligente de sua parte contratar antigos colegas, bons profissionais, em quem você possa confiar nas horas difíceis. Juntos, o trabalho será feito mais rapidamente e sem mal-entendidos, e graças à camaradagem nascida do compartilhamento das experiências no passado, tudo será também mais interessante.br>
Contudo, se você foi contratado para comandar um negócio relativamente saudável e que precisa, basicamente, de uma dose de ânimo novo, levar antigos colegas para a nova empresa pode gerar uma confusão grande demais por muito pouco. Nada é mais frustrante para uma empresa sadia do que um grupinho importado de conspiradores que, volta e meia, recorre ao bordão: "Era assim que fazíamos na outra empresa". Na pior das hipóteses, essa dinâmica resulta no aparecimento de uma sociedade de duas classes: os queridinhos do chefe e os funcionários antigos, agora marginalizados. Conclusão: examine o terreno e leve para a nova empresa seus antigos colegas só se for preciso fazer mudanças rápidas e que demandem a colaboração daqueles que insistem em se opor a elas. Se a situação não for de crise, procure pacientemente os melhores profissionais da equipe que você herdou e dê a eles uma nova visão de propósito.

Talvez você sinta falta dos antigos colegas, mas certamente não sentirá falta alguma da confusão que eles provavelmente causariam.
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