terça-feira, 29 de março de 2011

Dois dilemas e uma só resposta: diga adeus ao passado


Por Jack Welch com Suzy Welch 
Exame.com.br

1 Trabalho numa empresa pequena que foi recentemente comprada por uma companhia internacional. Na tentativa de nos tornar parecidos com eles, os novos donos estão destruindo justamente o que viram de bom em nossa empresa. Não consigo aceitar isso e estou pensando em pedir a conta. Devo?
Pergunta feita por um executivo de Nova York

O jeito como você fala diz tudo: "novos donos", "nossa empresa". Esse tipo de pensamento sempre foi o grande fantasma de qualquer fusão ou aquisição. Você é daqueles que resistem -- e, se não mudar de atitude, acabará fora mesmo, de um jeito ou de outro. É fato que qualquer aquisição é difícil e envolve certo sentimento de morte -- mesmo nos casos de "fusão entre iguais". As relações de trabalho se rompem. O que havíamos conquistado cai no esquecimento. O futuro parece incerto. Mas é preciso encarar a realidade. No momento em que uma empresa faz uma aquisição, os compradores se sentem nas nuvens. Eles transbordam otimismo e começam a sonhar com novas oportunidades. Uma delas é a possibilidade de encontrar profissionais de primeira linha na empresa adquirida. A parte compradora costuma pensar da seguinte forma: "Agora, com esse novo grupo de funcionários, teremos mais opções".

No momento em que os novos donos começam a identificar os melhores profissionais em cada equipe, duas coisas lhes vêm à mente: talento e dedicação. Mas que ninguém se engane -- eles querem encontrar essas duas características num mesmo indivíduo. Talento só não basta. Se há uma coisa que aprendemos com a prática e a observação de centenas de fusões e aquisições é que as empresas sempre preservam e promovem profissionais dispostos a cooperar em prejuízo daqueles que resistem às mudanças, ainda que sejam muito capazes. Ninguém vai querer por perto alguém choramingando e se lamentando pelos bons tempos de antigamente. Para os líderes da empresa compradora, quem não é a favor da aquisição é contra. Por isso, o melhor a fazer é dar adeus ao passado. Acabou. Aprenda a gostar da nova chefia, adote os valores e as práticas da nova organização e abrace o futuro. Mas, se nada disso for possível, peça a conta. Se continuar a resistir, jamais conseguirá o que deseja. Os velhos tempos não voltam. Quem insiste em sonhar com eles compromete o próprio futuro.

2 O que é melhor: trabalhar para um chefe ruim numa empresa boa ou para um chefe bom numa empresa ruim?

Essa é uma das perguntas que ouvimos com mais freqüência. A resposta é muito simples: se você tiver de optar por um dos dois, que seja, por favor, pela empresa boa. Por quê? Porque, se sua empresa for realmente boa, um dia o chefe ruim será identificado e demitido, ainda que isso leve tempo. Nesse caso, você poderá até ser recompensado com uma promoção por ter apresentado bons resultados, apesar de todo o sofrimento. Afinal, todo mundo sabe o que significa trabalhar sob as ordens de um sujeito mal-humorado, mesquinho ou mesmo incompetente. E, ainda que você não seja promovido, seu tormento não terá sido em vão. Você poderá ganhar um chefe melhor -- ou buscar outras oportunidades dentro da organização. Lembre-se: toda experiência passada numa boa empresa, trabalhando ao lado de pessoas inteligentes, terá valido a pena. Além disso, a reputação da companhia será uma credencial excelente para sua carreira no futuro.

Pense agora na outra possibilidade. Não há dúvidas de que ter um bom chefe é uma das melhores experiências da vida. Os bons chefes transformam o trabalho em prazer, fazem com que seja uma experiência significativa. Contudo, a dinâmica que anima o binômio chefe bom/empresa ruim não passa de fogo de palha. Todos os chefes acabam indo embora algum dia -- porque são promovidos, dispensados ou decidiram sair em busca de outras oportunidades. Algum dia o chefe bom para quem você trabalha também partirá. Na verdade, os bons chefes de empresas ruins são especialmente vulneráveis a mudanças porque são dotados de um estresse adicional que os leva a proteger seu pessoal do impacto decorrente de problemas mais graves da companhia. É um fardo que pode desgastá-los ou convertê-los em párias políticos. Seja como for, com o tempo eles irão embora.

Em outras palavras, aquela sensação boa que você sente ao trabalhar para um chefe bom numa empresa ruim é temporária. Seu chefe partirá um dia, mas a empresa deficiente continuará a mesma. É um beco sem saída. Não será fácil conseguir um novo emprego depois de ter trabalhado numa empresa de reputação medíocre. É como se você tivesse se tornado um profissional indesejável. No curto prazo, trabalhar para um chefe ruim -- mesmo que seja em uma empresa boa -- pode ser um verdadeiro inferno. No longo prazo, porém, depois que o chefe se for, você tem pelo menos a oportunidade de crescer profissionalmente.

É claro que trabalhar para um bom chefe pode ser uma experiência muito boa no curto prazo, mesmo que a empresa esteja ruindo à sua volta. No longo prazo, porém, essas boas vibrações acabam retornando sob a forma de prejuízo. Seu chefe se foi, e tudo que restou a você foi uma credencial ordinária e boas lembranças.

Faça um favor à sua carreira antes que seja tarde demais: pegue suas lembranças e leve-as para outro lugar.
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