sexta-feira, 25 de março de 2011

O MANAGEMENT EM QUESTÃO


Distantes das grandes ondas de novidades na gestão empresarial, os monges de New Skete criaramuma abordagem revolucionáriapara treinamento e desenvolvimento


A gestão de empresas é, ao mesmo tempo, um campo científico e uma atividade prática. O campo científico é habitado por pesquisadores apaixonados por teorias de notória elegância e ínfima utilidade. A prática é dominada por profissionais fascinados por técnicas de apelo fácil e eficácia pouca. A década passada foi pródiga em novidades para as duas tribos. Porém, pouca coisa sobreviveu à troca dos noves por zeros. No vazio instalado pelo novo milênio, talvez seja o momento para as abordagens cross-over, que trazem conhecimentos e técnicas de outras áreas e as adaptam ao universo corporativo.

Se o prezado leitor está entre os devotos de Peter Drucker, não perde as palestras dos curandeiros internacionais e de seus clones locais, busca nos grandes líderes empresariais modelos para a sua carreira e acredita que as empresas podem mudar o mundo, então uma leitura recomendável para este final de verão talvez seja How To Be Your Dog’s Best Friend, escrito pelos monges de New Skete. Bem estruturada e escrita em prosa fácil, a obra vem particularmente ao encontro das necessidades dos gestores de recursos humanos de grandes companhias. Os livros e vídeos dos monges de New Skete já venderam centenas de milhares de exemplares e os autores vêm recebendo reconhecimento internacional. Sua abordagem para o treinamento e o desenvolvimento, refinada por décadas de árduo trabalho, fundamenta-se em uma sólida filosofia, segundo a qual “o entendimento é a chave para a comunicação, a compaixão e a comunhão”. 

O volume supracitado trata, em mais de 300 páginas, de temas clássicos no campo: seleção, análise de pedigree, treinamento, qualidade de vida e uso adequado de incentivo e disciplina. A leitura certamente inspira os leitores. O conceito de pedigree, por exemplo, amplia consideravelmente a idéia de curriculum vitae, pois inclui informações genéticas, dados sobre antepassados e um amplo rol de certificados de aptidão física e mental. O livro é bem-vindo também pelos alertas contra certas práticas temerárias, como a aquisição de filhotes em lojas. Segundo os autores, não há garantias para a procedência de tais filhotes, que são produzidos em verdadeiras fábricas e tratados como gado de corte. Eles seriam, deduz-se, os equivalentes de recém-formados vindos de escolas fast-food de administração ou de MBAs, flagelos que grassam aqui como n’outras plagas.

No capítulo 8, dedicado ao treinamento, merecem destaque as aulas de obediência. Os autores chamam a atenção para importância da escolha de um bom treinador e para as atividades de counseling. Os capítulos seguintes tratam dos incentivos e da disciplina, uma questão ainda tabu, mas que, segundo os monges, deve ser encarada. A polêmica é marcada por posições contraditórias: alguns especialistas tomam como premissa que os métodos de treinamento devem compreender somente reforço positivo. Outros, no entanto, advogam que, eventualmente, o uso da força pode constituir uma abordagem razoável e adequada, harmonizando-se com a dinâmica natural. Assim como em alcatéias e matilhas o macho alfa disciplina, pela força, os demais membros da comunidade, em centrais de atendimento e mesas de operação, um capataz robusto ou um diretor autoritário podem garantir o atendimento das metas corporativas.

Para os gestores que enfrentam problemas crônicos com o ambiente organizacional, mal conseguem gerir os conflitos de sua equipe e têm como desafio incluir a organização na lista das “melhores empresas para se trabalhar”, a sexta parte do livro – com o título de Problemas – certamente abrirá trilhas. O capítulo 43, por exemplo, traz uma interessante tipologia de comportamentos agressivos, incluindo a agressão por medo, a agressão territorial, a agressão entre machos e a agressão genética e agressão treinada. A leitura deveria ser obrigatória para aqueles que trabalham em diretorias de grandes empresas industriais.

Além de bons conselhos e fotografias elucidativas, o livro traz histórias exemplares, como a do chow chow Boris e a do rottweiler Sasha. Muitos leitores certamente se identificarão com esses simpáticos personagens. Em tempo: os monges de New Skete são especializados em pastores alemães. Porém, suas técnicas se aplicam a outras raças e certamente seduzirão gestores interessados em transformar seus colaboradores em uma matilha corporativa bem disciplinada e produtiva. Muitos leitores, provavelmente, reconhecerão no livro práticas há muito disseminadas em suas empresas. 


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