sábado, 19 de março de 2011

Há dois tipos de chefes durões: a que categoria você pertence?


Jack com Suzy Welch
Exame.com.br

Os chefes durões conseguem realmente que seus subordinados se empenhem mais? É claro que, a curto prazo, os resultados são evidentes, mas será que esse tipo de chefe contribui para o sucesso da empresa também a longo prazo?
(Alessandro Bolongaro, Milão, Itália)

Sim e sim. Sua pergunta é muito explosiva.

É explosiva, em primeiro lugar, porque o modo como definimos “durão” afetará bastante a resposta à sua pergunta. Em segundo lugar, porque um chefe poderá ser mais ou menos durão dependendo do desempenho de sua equipe.

“Durão” é um termo com múltiplas camadas de significado e, por isso mesmo, aberto à discussão. Contudo, cremos que ninguém duvida de que profissionais de primeira linha, com resultados excelentes, tendem a se preocupar muito menos com chefes durões, e se queixam menos deles, do que indivíduos que têm dificuldades em atender ao que se espera deles. 

Vamos refletir um pouco inicialmente sobre o significado de “durão”.

É claro que há chefes durões por aí que não passam de idiotas embriagados de poder e que adoram intimidar as pessoas. É terrível trabalhar para gente desse tipo. Eles pressionam sem piedade sua equipe, ficam com os louros quando as coisas vão bem, apontam o dedo acusador quando algo sai errado e, de modo geral, são extremamente sovinas quando se trata de elogiar ou de premiar alguém. Costumam ser também temperamentais, políticos, manipuladores, mesquinhos — às vezes explicitamente, às vezes não —, ou tudo isso ao mesmo tempo.

Agora, conforme você disse, em certos momentos esse tipo de chefe consegue bons resultados. Dificilmente, porém, por muito tempo. Em qualquer empresa decente, um chefe assim não dura; ou ele é destituído da função, ou acaba se autodestruindo, mas não necessariamente nessa ordem.

Existe todo um espectro de chefes. A espécie destruidora, do tipo durão que descrevemos pouco antes, ocupa uma das extremidades desse espectro. Na outra ponta — mas também igualmente nocivo para os negócios — encontramos aquela variedade cuja principal preocupação consiste em fazer todo mundo feliz. Sim, pode ser muito bom trabalhar para essa espécie de chefe — nunca foi tão fácil receber o salário no fim do mês! —, mas sua falta de firmeza costuma produzir resultados medíocres.

Por que?

Simplesmente porque pelo menos três pecados básicos entram em ação aí: esses chefes “simpáticos” tratam a todos com a mesma gentileza e com o mesmo carinho anódino, justificam os objetivos não alcançados sem medir as conseqüências e mudam de direção de acordo com as necessidades de cada um de seus subordinados.

Em suma, eles não têm fibra alguma!

Em algum ponto entre os dois extremos — muito provavelmente mais próximo da extremidade severa do que da extremidade “light” — encontraremos aquele chefe que sabe de fato o que significa ser durão, e por isso consegue que seu pessoal tenha um excelente desempenho a longo prazo.

Não será exagero dizer que esses chefes são os heróis de qualquer negócio, e nunca os vilões. Pode ser que eles não contagiem seu pessoal com aquele clima de aconchego meio indefinido, mas os bons resultados por eles obtidos produzem um ambiente de trabalho sadio e íntegro, em que as pessoas e a empresa prosperam. Há segurança para os funcionários de bom desempenho e geração de valor para os acionistas. O que mais alguém poderia querer?

Para chefes desse tipo, ser durão significa ser realista. Seus objetivos são claros e desafiadores. A esses objetivos eles associam expectativas específicas de desempenho. Fazem com freqüência avaliações rigorosas da performance dos seus funcionários. Recompensam de acordo com os resultados obtidos: ganham os maiores elogios e os bônus mais elevados os que tiverem contribuído de forma mais eficaz. Como a compensação é proporcional ao mérito, os ineptos não levam nada. Esses chefes são de uma imparcialidade à toda prova, não escondem de ninguém o que pensam e em que pé se encontram os negócios. Todos os dias, o chefe durão de verdade exige o máximo da sua equipe. Ele pede muito e espera que a equipe corresponda.

Isto significa que é difícil trabalhar para esse tipo de chefe?

É claro! Mas é nesse ponto que a performance individual entra em cena. Se você se acha à altura do desafio, trabalhar para um chefe durão pode ser algo incrivelmente estimulante, que o leva a fazer coisas que você nem imaginava que fosse capaz de fazer. No entanto, se o nível de exigência requerido pelo chefe chegar a um patamar que o faça se sentir aquém do que lhe pedem, não é nada improvável que tal experiência lhe inspire ódio. E, graças à natureza humana, há uma probabilidade muito grande de você lançar a culpa pelo ocorrido sobre o chefe “durão”, em vez de culpar a si mesmo.

Temos um exemplo perfeito dessa dinâmica em ação no caso de Bob Nardelli, presidente-executivo da Home Depot e típico chefe durão no bom sentido — exigente, sem dúvida, mas justo, transparente e preocupado com resultados.

Em um artigo recente da revista americana Business Week em que se elogiava a reviravolta que Nardelli promoveu em cinco anos à frente da empresa, o costumeiro “outro lado da história” veio sob a forma de queixas de outros executivos da companhia. Para esses profissionais, Nardelli introduziu uma “cultura do medo” na empresa. É interessante observar que os executivos citados — nenhum dos quais concordou em se identificar — não trabalham mais na Home Depot. Por que será que saíram?

Será que foi porque Nardelli era “durão”?

Ou será porque seu realismo levou à fixação de padrões de desempenho que aqueles profissionais não foram capazes de satisfazer?

Apostamos na segunda hipótese. O fato é que há chefes durões no bom e no mau sentido. A diferença entre um e outro depende, muitas vezes, do ponto de vista do observador.

É bom frisar mais uma vez que não estamos nos referindo aqui àqueles chefes idiotas que recorrem a recriminações grosseiras, que fazem pouco dos seus subordinados e pisam neles. Não há quem não odeie esse tipo de chefe. Eles merecem o repúdio universal.

Estamos falando de chefes equilibrados — exigentes, sim, porém justos, que pedem muito, mas que recompensam em igual medida e não usam meias palavras para expressar sua insatisfação.

Profissionais medíocres gostariam que esse tipo de chefe sumisse.

Quem quer ser bem-sucedido procura um chefe assim.

Tenho 22 anos e acabo de me formar em finanças na Universidade da Geórgia. No verão, fiz estágios em diversas empresas. Trabalho atualmente no escritório de um senador americano, e, embora minhas atividades sejam fascinantes, estou com dificuldades em me adaptar à mentalidade do setor público. Que conselho você daria? (Justin Golshir, Washington, D.C.)

Bem-vindo ao mundo da política, onde tudo o que você aprendeu nesses últimos anos não tem praticamente mais validade alguma.

E que valores são esses? Metas específicas, gratificações por resultados alcançados, produtividade e rapidez, entre outros — certamente os professores de finanças que você teve falaram mil maravilhas disso tudo, assim como os chefes para quem você trabalhou no verão. Na política, porém, os valores são outros, e seu problema de adaptação é sinal de que você começou a descobri-los.

Não se preocupe.

Seu novo emprego faz parte de um sistema extremamente crítico para o bom funcionamento da sociedade. Sem dúvida, você se sentiu orgulhoso do trabalho que conseguiu no governo, e com razão.

Mas há alguma coisa incomodando você, e se fôssemos dar um palpite, diríamos que é ... bem, a política dos políticos. É a burocracia, são os acordos, os favores e tudo aquilo que é próprio desse mundo. Não há diferenciação e nem sinceridade. Prevalece uma mentalidade do tipo “toma lá, dá cá”. Falta um clima de competitividade, não é mesmo?

Certo. A situação é essa e não há sinal de mudança. O governo está cheio das deficiências próprias da política e sempre estará.

Bom, há quem não veja problema algum nisso; muitos fazem carreira no governo. Mas como você já está dando mostras de que está incomodado, é bem provável que sua praia seja outra. Seu futuro está no setor privado.

Mas não tenha pressa. Um estágio de alguns anos no mundo da política pode ser uma experiência muito boa para a carreira de negócios. Conhecer por dentro o modo como o governo resolve as coisas será muito útil em diversas situações que você encontrará pela frente, principalmente quando ocupar cargos de maior responsabilidade em uma empresa.

Já o raciocínio contrário não se aplica. Isto é, dificilmente alguém com experiência na área de negócios será bem-sucedido no governo. Sim, sabemos que há uns poucos ex-executivos em funções importantes em várias capitais, mas pouquíssimos têm alguma realização notável para mostrar, para dizer o mínimo.

E por que?

Ninguém sabe ao certo. Talvez eles sintam as mesmas frustrações que você sente — só que multiplicadas por um valor ‘n’ vezes maior.
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