domingo, 11 de abril de 2010

Brasil: a primeira potência de semiletrados?


Vários elementos vêm contradizendo a máxima de que seremos potência de primeiro mundo em 2016.
Nào se trata de implicância contra um ou outro, apenas é uma opinião que vai de encontro à corrente dominante, mormente dos que, em vulto de 74% acham que o presidente está fazendo um bom ou ótimo governo.

Qual seria o problema maior disto? é o que se evidencia que pessoas que respondem a 74% das preferências não tem a menor ou mais absoluta condição e enxergar a realidade e vive, fora o ambiente de novelas e programas sensacionalistas, a mais completa incapacidade de viver em uma democracia e economia de um país extenso e complexo como o Brasil.
Empatia com base em uma forte e inebriante pressão de marketing televisivo não impulsiona, de forma constante e sustentável, nenhuma sociedade para o primeiro mundo. Não adianta estarmos sentados no berço explêndido do pré-sal que nossa desigualdade social e o analfabetismo funcional irão consumir e depauperar toda e qualquer capacidade de se gerar uma economia forte, postos de trabalho e um sustentável desenvolvimento. Países na História foram ricos mas com suas sociedades com pouca instrução sucubiram a colonizadores ou, no mínimo, não tiveram condições de competir e acabaram por gerar guerras para se reposicionar. Foi o caso da China e Índia dominadas pela Inglaterra e pela Rússia depauperada e debastada por seus sucessivos kzares e invasões francesas e japonesas.

A difiiculdade em se promover educação e cultura em seu povo até hoje impede estas componentes do BRIC em alcançar desenvolvimento sustentável. Nós, dos quatro, nunca tivemos uma guerra que nos prejudicasse, a não ser nossa secular capacidade de autofagia.

Continuo achando que estamos longe de sermos potência de primeiro mundo apenas por causa de condições estruturais e funcionais. Muito mais estruturais nos próximos anos, pois não conseguiremos diminuir a desigualdade social por não termos condições de adentrar no país com energia elétrica sustentável e de qualidade, vias de transporte de escoamento e trânsito, telecomunicações e, sobretudo, melhores condições de educação.  Não existe nem implicância nem mágica, o que temos propagado atualmente é pura falácia, o problema é que ao estarmos em época eleitoral o cidadão se vier a tirar a atenção de sua novela vai achar que é estratégia de campanha e papo de política e não vai se interessar, e postergaremos a solução do problema por mais alguns anos....culpando São Pedro, o imperialismo americano e as indefectíveis "zelites"...

Bem, a título de exemplo prático, o autor incia o texto com o exemplo de uma funcionária com acesso e desenvoltura em tecnologia informacional, ou seja, uma não-digitalmente excluída e vejam o resultado.

Bem, de toda sorte, tudo o que o Gustavo Ioschpe escreve merece ser lido com reflexão.



Brasil: a primeira potência de semiletrados?

"Apesar do oba-oba, o Brasil está próximo de ser um 
colosso econômico e esquecer a formação de sua gente"


Quando voltei ao Brasil, depois de anos no exterior, queria montar meu escritório rapidamente. Contratei, então, um desses serviços de secretariado virtual para me ajudar enquanto iniciava o processo de busca por uma equipe permanente. Notei que a secretária virtual não era um gênio, mas achei que quebraria o galho. Certo dia, mandei um e-mail a ela pedindo que me conseguisse a informação de contato do cônsul brasileiro em Houston (EUA). Informação encontrável na internet em poucos minutos. Passaram-se cinco minutos, cinco horas, e nada.
Três dias depois, recebi um e-mail da fulana: "Sr. Gustavo, procurei na Cônsul e até na Brastemp, mas ninguém conhece esse tal de Houston". Pensei que fosse piada. Reli. Não era. Para quem havia ficado alguns anos construindo teses acadêmicas sobre a importância da educação para o desenvolvimento das nações, através do seu impacto na produtividade de uma população, estava ali o exemplo pronto e acabado de como é difícil produzir algo quando a ignorância campeia à volta. É assim para uma pessoa, uma empresa e um país.
Os economistas Gustav Ranis, Frances Stewart e Alejandro Ramirez ilustraram essa relação de forma clara. Analisaram 76 países durante um período de 32 anos. Dividiram-nos de acordo com dois critérios: crescimento econômico e desenvolvimento humano (nesse caso, medido através de uma combinação de indicadores de educação e saúde). Usando essas duas dimensões, você pode ter duas situações de equilíbrio (quando o lado humano e o econômico são igualmente altos ou baixos) e duas de desequilíbrio (quando o humano é alto e o econômico baixo, e vice-versa). Surgem algumas conclusões interessantes desse estudo.
A primeira é que as situações de desequilíbrio duram pouco. Se um país tem muito crescimento econômico e pouco capital humano (CH), ele tende a parar de crescer (caso, sim, do Brasil nas décadas de 60 e 70) ou a aumentar seu lado humano.
A segunda: é muito difícil sair de uma situação de equilíbrio negativo: mais da metade dos países que tinham baixo crescimento e baixo CH em 1960 permanecia empacada na mesma posição na década de 90.
A terceira é que o crescimento econômico, quando desacompanhado de evolução do lado humano, dura pouco: de todos os países que tinham alto crescimento econômico e baixo CH no início do período, nenhum conseguiu chegar ao equilíbrio em alto nível. Todos, sem exceção, terminaram o período com baixo crescimento e baixo CH.
A quarta, e mais importante, é que a estratégia de privilegiar o lado humano dá frutos muito melhores do que aquela que enfatiza só o lado econômico: dos países que começaram o período com alto CH e baixo crescimento econômico, um terço chegou ao nirvana da alta renda e alto nível humano; um terço continuou com um lado mais desenvolvido que o outro, e apenas um terço regrediu para o fim trágico do baixo crescimento e baixo CH.
O resumo da ópera é o seguinte: é muito difícil passar de uma situação de subdesenvolvimento e chegar ao chamado Primeiro Mundo. Mas, se o período 1960-92 servir de guia, das duas estratégias possíveis – privilegiar o crescimento econômico versus privilegiar o crescimento humano –, a primeira se mostrou um fracasso total, e só através da segunda é que um terço dos países chegou ao objetivo desejado.
Esse aprendizado é, hoje, especialmente importante para o Brasil. Apesar de todo o oba-oba com o país nas capas de revistas e jornais estrangeiros, o Brasil está, na verdade, perigosamente próximo de repetir a trajetória do fim da década de 60: ser um colosso em termos de crescimento econômico e esquecer a formação de sua gente. Essa estratégia tem destino certo: a falta de pessoas qualificadas faz com que o processo emperre e o crescimento acabe. Temo, inclusive, que seja tarde demais para evitar parte desse enredo: várias indústrias, especialmente as ligadas à engenharia, já têm seu crescimento cerceado pela impossibilidade de encontrar gente qualificada. O problema será muito pior nos próximos vinte anos, à medida que a demanda por pessoas qualificadas for aumentando e as escolas continuarem formando incompetentes.
Há três diferenças importantes entre o momento atual do Brasil e aquele da época do milagre econômico.
A primeira é que o atraso educacional brasileiro em relação aos países desenvolvidos aumentou consideravelmente. Há trinta anos, o ensino superior era um nível para poucos, mesmo nos países mais ricos. Levantamento feito em 2000 mostrou que a porcentagem de adultos com diploma universitário no Brasil era bastante parecida com a de outros países – 1 ou 2 pontos porcentuais abaixo de Chile e Argentina e 3 a 4 pontos abaixo de Itália e França, por exemplo. Quando se olha para a taxa de matrícula atual do ensino universitário, porém, nota-se que o Brasil tem uma diferença de 20 pontos porcentuais para nossos vizinhos latino-americanos e de 40 ou mais pontos para os países desenvolvidos. A maioria dos brasileiros não se dá conta de quão ruim é a educação nacional. Uma pesquisa de 2009 sobre alfabetização, feita pelo Instituto Paulo Montenegro, mostrou que apenas 25% da população adulta brasileira é plenamente alfabetizada. Deixe-me repetir: só um quarto dos brasileiros conseguiria ler e entender um texto como este. Nenhum país jamais se tornou potência com uma população de semianalfabetos. É improvável que o Brasil seja o primeiro, mesmo com todos os recursos naturais de que dispomos.
Segunda diferença: nos anos 60/70, pouquíssimo se falava sobre educação. Hoje, a questão está em pauta. O diacho é que a maior parte do discurso ainda é pré-científica (ou anticientífica) e continua insistindo em teses furadas e demagógicas: que o Brasil investe pouco e que o principal problema é o salário do professor.
A terceira e última é que naquela época éramos uma ditadura inserida no polo pró-americano em um contexto de Guerra Fria, e hoje somos uma democracia altiva em um mundo multipolar. Se então nossos males nos eram impostos por um regime autocrático, hoje temos liberdade e responsabilidade por nossos destinos. Os problemas e os erros são todos nossos, e as soluções também terão de ser.
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Um comentário:

  1. Os problemas do nosso país são bem difíceis de serem resolvidos. Quando paramos para pensar sobre eles, bate um sentimento de desesperança misturado com raiva. Talvez, por isso, muitos acabam se acomodando e tentando esquecer os problemas do mundo por meio de novelas, BBBs e coisas parecidas.

    Agora lembrei de uma grande amiga minha que é uma pessoa altamente inteligente e culta. E uma vez ela me disse que antes de adormecer, prefere ficar com a TV sintonizada em programas fúteis, porque se ela for assistir a programas de notícias que mostram os problemas que estão ocorrendo no Brasil e fora dele, ela não consegue mais dormir e chega a ficar deprimida. No momento ela anda passando por uma fase de revolta causada por todos os problemas sociais e pelos ocasionados por desastres naturais que vêm ocorrendo... E, ontem ela me ligou e disse assim: 'olha, não existe felicidade completa neste mundo. Por mais que a gente esteja bem e tudo esteja dando certo de acordo com todos os nossos planos, a gente só fica feliz se não olhar para o lado, pois se vemos que o(s) outro(s) não está(ão) bem, toda a nossa felicidade vai por água abaixo...'

    Vai ver, a felicidade só seja mais estável às pessoas egoístas, já que elas só enxergam a si próprias!

    Mas, voltando ao assunto... não vou me arriscar a falar sobre os aspectos econômicos, pois não entendo muito... então irei citar algo que vejo em minha área que pode servir de comparação... Vejo que o número de pesquisas elaboradas por pesquisadores da área da saúde é elevadíssimo. Há pesquisas de tudo no mundo! Mas às vezes me pergunto se estão sendo realizadas para beneficiar realmente à comunidade ou se estão sendo feitas por obrigação, por auto-afirmação, por vaidade ou para preencher cada vez mais seus currículos lattes. São muitas as soluções sugeridas para resolver os problemas de saúde, mas parece que são poucos os projetos que têm reais aplicabilidade. Tem muita gente para sugerir soluções, mas são poucos os que estão dispostos a colocá-las em prática!

    Acho que já está passando da hora de as pessoas que tiveram boas oportunidades na vida, que tiveram acesso à boa educação, que têm muito conhecimento, de compartilhá-lo com os que não tiveram a mesma "sorte". Não podemos ficar apenas esperando pelo Poder Público que dá prioridade a outros interesses, cada um deveria fazer a sua parte também, para que soluções sejam sugeridas, mas que também sejam colocadas em prática.

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