domingo, 18 de abril de 2010

Bric precisa ter mais voz no mundo, diz O'Neill

Alguns pontos tornam comuns os quatro países do grupo: extensão territorial, densidade demográfica (distribuição geográfica dos grupos de pessoas ao longo do território) e baixa infra-estrutura para produção de riqueza.

China e Rússia ainda precisam lutar contra o clima, pois a maioria do território fica em área de climas frios com invernos rigorosos o que dificulta, sobremaneira, a manutenção de serviços e trânsito de bens. Como 85 % do comércio no mundo se faz por via marítima, ao longo de cinco meses estes países ficam com seu trânsito marítimo impedido, principalmente nas baías ao norte onde o mar congela.

Já Índia e Brasil não têm este problema e ainda podem se servir de oceanos com correntes quentes com escoamento naval para quase 270 graus de distribuição de rotas de saída.

O mais previlegiado em termos de quantidade de pessoas versus riquezas para serem distribuídas é o Brasil. Precisamos tirar vantagem dessa peculiar equação. Para tudo isto ser viável, precisamos de energia elétrica de qualidade e sustentável. Ainda temos muitos brasileiros na lamparina e energia pública à carvão e gás.

O que falta para nós sermos vanguarda absoluta? A participação da sociedade nos projetos de infra-estrutura, o combate aos inimigos íntimos que, nesta semana em particular, mostrar-se-ão em todos os matizes possível com suas egoísticas reivindicações.

O autor do texto, todavia, ressalta por demais o lado contábil da economia desenvolvimentista, o que não nos favorece em termos de entendimento mais amplo dos problemas e de nossos desafios.

Mantenho a reportagem, contudo, pois será uma fonte de pesquisa futura.
Aliás o blog é desenhado com este objetivo primário. Ser fonte de consulta onde mantenho os temas principais. Meus pitacos não são de muita densidade, contudo as fontes que uso sim.



Bric precisa ter mais voz no mundo, diz O'Neill





O grupo do Bric - formado por Brasil, Rússia, China e Índia - foi criado em 2001 pelo chefe do departamento econômico global do banco Goldman Sachs, Jim O’Neill. Em entrevista exclusiva à VEJA.com, o economista explica que a China acaba de entrar num ciclo de crescimento calcado no mercado interno, o que trará conseqüências positivas para a economia global. Ao Brasil, alerta, há um longo caminho a percorrer na ampliação de sua produtividade - fator essencial para a superação de sua condição de grande exportador apenas de commodities. O'Neill frisa ainda que o grupo é cada vez maior importante no cenário internacional, chegando, por vezes, a ofuscar o G7. Contudo, falta ao grupo a merecida representividade nas instituições financeiras internacionais.


O governo da China, em declaração no portal do Ministério de Relações Exteriores, finalmente admitiu que adotará gradualmente uma taxa administrada de câmbio flutuante. Por que essa flexibilização por parte das autoridades chinesas e que conseqüências isso trará para o mundo?
Não vejo uma mudança radical de postura com relação ao câmbio. As coisas na China costumam mover-se muito lentamente numa perspectiva de longo prazo. Creio que, como o governo chinês deixou bem claro, as autoridades do país consideravam a crise tão preocupante que queriam se certificar que as coisas que eles podem deixar estáveis realmente ficassem estáveis. Agora que a crise está sendo superada - verificou-se, particularmente, um incrível crescimento da economia chinesa no primeiro semestre -, eles sentem que os riscos estão mais distantes de certa forma. Em particular, se o Congresso americano não atrapalhar, os chineses vão se preparar para mudar gradualmente o câmbio. Simples assim.
Ao sinalizar para um yuan mais forte, os chineses revelam estar, de certa forma, preocupados com o fato de que muitas economias estão enfrentando quadros complicadíssimos de déficit fiscal no pós-crise? Em outras palavras, apreciar o yuan não seria uma forma de a China preservar seu próprio mercado consumidor?
A grande história em andamento é que a China do pós-crise está entrando numa era de forte consumo doméstico. Este será o fator determinante de sua evolução futura, o que é bom para eles é bom para o mundo. Na última semana, a China anunciou que, em março, teve o seu primeiro déficit comercial em seis anos. Tomando por base os três primeiros meses de 2010, vemos que o superávit comercial chinês caminha para uma taxa anualizada de apenas 1,5% do PIB. Em outras palavras, esses números revelam que as pessoas precisam se conscientizar de que a economia chinesa no pós-crise será muito diferente da que existia antes dela.
Quais são principais desafios para o Brasil nos próximos anos?
Acredito que o Brasil tem desafios muito interessantes depois desta eleição. O futuro governante terá de preservar os esforços para manter a inflação na meta. Friso, inclusive, que o país conduz há mais de uma década uma fantástica política econômica, cujo sucesso se deve justamente a reformas fundamentais que foram realizadas no período. O maior crédito tem de ser dado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas também, é claro, ao governo Lula. Algo que, aliás, endossa fortemente a credibilidade do atual presidente é o fato de não ter mudado o rumo das coisas, quando todos apostavam que ele o faria. 
Contudo, o peso do Estado brasileiro é muito grande e tal situação não deveria ser mantida indefinidamente. O país também tem de se engajar mais na conquista de mercados para seus bens e serviços, indo além das commodities.
O Brasil é um país que possui uma dificuldade histórica de ter uma política de longo prazo de promoção e diversificação das exportações. O que fazer para além das commodities, como recomendou?
O Brasil tem de continuar tentando e precisa se esforçar ainda mais. Conquistar mercados internacionais não é fácil para ninguém. Há muitas evidências no comércio internacional de que é preciso perseguir altíssimas taxas de crescimento da produtividade, o que os chineses especialmente demonstram muito bem. O ponto-chave é a produtividade.
Os presidentes do Bric, reunidos aqui no Brasil, reivindicaram em declaração conjunta a reformulação das instituições financeiras globais. O principal objetivo é obter maior representatividade no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial. Qual sua avaliação sobre esse pleito e quais são as chances de isso realmente acontecer?
Acho que é inevitável. Esta é a razão mais poderosa a justificar a existência do Bric enquanto grupo. O FMI, o Banco Mundial e mesmo as Nações Unidas não mais conseguem espelhar a realidade econômica internacional. Os países que compõem o Bric já respondem por 16% do PIB global. Muito em breve, a economia chinesa ultrapassará a do Japão. Por outro lado, o que pequenos países ricos da Europa têm feito com o FMI é ridículo. Este cenário é que permite e a justifica que o Bric se reúna e exija mudanças. E elas não pararão por aqui. Ao longo desta década, veremos muitas outras. Essas transformações não só precisam acontecer, como certamente ocorrerão nos próximos anos. Caso isso não se verifique, o FMI e o Banco Mundial correm sério risco de perder legitimidade.
A sigla Bric, cunhada pelo senhor em 2001, faz muito sentido do ponto de vista econômico. Por outro lado, somos muito diferentes politicamente. Sob este ponto de vista, o acrônimo também faz sentido? E, por fim, existe possibilidade de uma maior harmonização no grupo?
Não. Não faz, inclusive, nenhum sentido ser um grupo político permanente. Dentro do Bric, há muitas discrepâncias. Há, de um lado, duas formas de estado com partido único, na China e na Rússia. Em oposição a isso, Brasil e Índia são duas democracias vibrantes, ainda que com várias diferenças. Esses países, por definição, estão impossibilitados de cooperar uns com outros no campo político.
No entanto, acredito que, em grande parte, a economia por si só justifica a existência do Bric enquanto grupo organizado. Todos são tão grandes. Qualquer movimento que façam tem conseqüências tão importantes para a economia internacional. Até que tenhamos as Nações Unidas e, especialmente, o FMI e o Banco Mundial reformulados, será fundamental que esses ‘players’ encontrem maneiras de fazer valer suas opiniões. Brasil, Rússia, China e Índia, agrupados no Bric, têm hoje uma legitimidade cada vez maior – ainda que não representatividade – que o próprio G7. Sua simples existência porá pressão cada vez maior sobre Washington, Bruxelas e Berlim, resultando em modificações substanciais nas instituições financeiras e políticas internacionais.
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