quarta-feira, 28 de abril de 2010

LEALDADE MILITAR - José Nogueira Sobrinho

LEALDADE MILITAR
    José  NOGUEIRA Sobrinho – Ten Cel Esp Av Ref
    Oficial de Segurança de Voo, Oficial de Manutenção e Engenheiro de Voo da Força Aérea
    “Sempre fui soldado, de alma e coração.”
  Marechal-de-campo Alberto Kesselring.
 
             1 – CONCEITO
          Para o soldado, a lealdade faz tripé com a hierarquia e a disciplina e não pode ser dissociada da ética militar, da moral e do caráter pessoal.

    O Marechal-de-campo Lord Caver, no livro Os Generais de Hitler, autor do capítulo nove sobre o Marechal-de-campo Erich Von Manstein, comenta a respeito:“Oficiais das Forças Armadas de todos os países estão acostumados ao conflito entre a lealdade aos seus subordinados e a lealdade aos seus superiores e, às vezes, ao conflito de lealdade a superiores diferentes”. E que oficiais podem enfrentar igual conflito de lealdade entre os seus chefes políticos e os interesses das Forças Armadas e os da própria nação.

    Este trabalho aborda alguns aspectos que precisam ser aprofundados da lealdade militar e vale-se do Exército alemão, e seus oficiais, apenas como referência histórica, e visa reforçar no oficial, responsável pelo bem-estar da tropa, conceitos que ajudem a resolver problemas, a razão de ser do oficial. 

          2 – LEALDADE AOS SUBORDINADOS
          Cumplicidade (não confundir com promiscuidade, permissividade) é a palavra-chave da lealdade aos subordinados, e compete ao oficial estabelecê-la no estrito cumprimento da missão. Isso porque as ordens, fragmentárias por natureza, precisam se adaptar às condições objetivas (táticas) e para as flexibilizar, o oficial precisa de preparo para se aproximar do subordinado e conhecê-lo, como fazia o Marechal-de-campo Walter Von Reicheneau, que “sempre manteve o seu amor à tropa, mesmo depois de marechal”.

          Burlando o Tratado de Versalhes, o Exército alemão rearmava-se para a escalada nazista da II Grande Guerra. Para os recrutas, repetia-se a velha piada:“Vocês chegam aqui como civis e sairão como seres humanos”. O Marechal Reicheneau, mentor do rearmamento alemão, contra-argumentava: não se deve dizer a esses jovens “vocês não sabem de nada, não podem fazer nada”, mas sim, estimulá-los, dizer-lhes que já sabiam de um bocado de coisas, que eram capazes, mas que aprenderiam mais e se tornariam bons soldados (in obra citada, Os Generais de Hitler, p. 230). O alemão, claro, tornou-se o melhor soldado do mundo porque foi preparado para isso, e o pensamento do marechal revela a essência da lealdade (e das demais virtudes militares): respeito.

         Cumplicidade, então, confunde-se com liderança, definida por Lord Nelson como “a arte de fazer-se querer, aliada ao talento de fazer-se respeitar”,para que, de fato, e não apenas de direito, possa o oficial marchar ombro a ombro com a tropa envergando a mesma farda. 

          3 – LEALDADE AOS PARES
          Se bem que a antiguidade em cada posto atropele a idéia de par, a lealdade entre pares passa pela camaradagem sem os formalismos da conhecida e mais abrangente “camaradagem militar”, que quase sempre não passa de mera expressão da “linguagem sedutora” institucional.

       A lealdade aos pares, por conta de interesses crescentes (promoções, cargos, comissões) que, aos poucos, minam a pureza dos primeiros anos da carreira, passa pelo cuidado de subordinar as ambições pessoais ao verdadeiro espírito de competição. 

          4 – LEALDADE AOS SUPERIORES
          Segundo Weber, há a ética das convicções e a ética da responsabilidade. No cumprimento da     missão, as convicções são balizadas pela disciplina intelectual (lealdade aos superiores), pois fala mais alto a responsabilidade do subordinado de apresentar resultados, desde que moralmente aceitáveis.  

          É preciso inteligência e senso de oportunidade para explorar a fundo a   disciplina intelectual. Tanto da parte do superior, aberto ao diálogo e às idéias novas, como do subordinado, que não pode ter medo de pensar e agir com competência no campo de ação para o qual se capacitou.

    A lealdade diferencia-se da submissão ao superior (e da opressão ao subordinado) na franqueza, na coragem, no preparo para dizer respeitosamente, e na hora certa, o que precisa ser dito. “Tato, e não o silêncio, é de ouro” (Samuel Butler). 

             5 – LEALDADE AOS SUPERIORES DIFERENTES
      Nesse caso, os conflitos aparecem quando, na cadeia de comando, há divergências doutrinárias, operacionais, administrativas ou simples confronto de egos.

    Evidentemente, cabe ao subordinado valer-se das oportunidades para, junto às partes, dirimir dúvidas, pois não pode deixar de decidir o que precisa ser decidido. E se nem isso for possível, decidir o que precisa ser decidido, deverá, além de se documentar, comunicar o ocorrido, de preferência por escrito, para não ser desleal e omisso. E lembrar que a simples comunicação do problema não pode levar ao esquecimento e à acomodação, como se a responsabilidade fosse agora só do superior.

    O General Guderian, um dos comandantes alemães da invasão da França na II Grande Guerra, foi taxativo a esse respeito: “A batalha contra nossos superiores dá, às vezes, mais trabalho do que contra os franceses”. As tropas alemãs entraram em Paris no dia 14 de setembro de 1940. 

            6 – LEALDADE AOS CHEFES POLÍTICOS
    Ao chefe político (presidente, ministro da defesa, congressistas), não necessariamente entendido na arte da guerra, mas com certeza conhecedor da alta estratégia nacional aplicável ao campo militar do poder nacional (que não se limita só às Forças Armadas), cabe declarar a guerra e estabelecer os objetivos políticos a alcançar.

    Ao chefe militar compete conduzir a guerra estabelecendo estratégias (a arte dos generais) como meios para atingir os fins políticos. Nesse contexto, cada arma (do coronel ao soldado) persegue os meios para atingir os fins com suas táticas nos campos de batalha (missões).

    É por aí que se definem as atribuições de civis e militares, que por sua vez definem o modo, entre outros, de lealdade. Os generais, visando a defesa nacional, dimensionam as necessidades da tropa, cabendo aos civis prover essas necessidades, sob pena de sucateamento das armas. Quando o sucateamento começa a tomar forma (ou qualquer outra ameaça à segurança nacional) e não é interrompido, está na hora de forçar o diálogo, para que a lealdade não acabe em submissão, inaceitável diante da lealdade incondicional à pátria.

    A propósito, é bom ter em mente o que disse Seydlitz, na batalha de Zorndorf (Guerra dos Sete Anos): “Depois da batalha, o rei pode dispor de minha cabeça como quiser, mas, durante a batalha, ele generosamente me permitirá que eu a use”.

    Não há saída. Ousa-se, mesmo à custa da própria cabeça, ou capitula-se. 

    7 – CONCLUSÃO
    Entre as virtudes militares, a lealdade é a virtude militar por excelência. Sua prática consciente exige preparo intelectual conseqüente da formação do militar. O oficial, antes de tudo um cavalheiro, deve ter mente administrativa e cartesiana, ser culto, poliglota e viajado, para não precisar da falsa virtude da supervalorização, quase sempre substituta do mérito pessoal.

    O mérito se completa com a virtude e, juntos, consolidam a instituição que, para ser verdadeira, precisa estar acima dos homens.

    Mestre do Iluminismo, Montesquieu pregava a necessidade de solidez da instituição, pois nada se constrói somente com a virtude dos homens, embora, sem a virtude, nada se sustente.

    Com ética e verdade, FORÇA AÉREA, BRASIL!
    Recife – 2008 – Reproduza e divulgue – “ENSAIOS”  – pág 11/12
.

2 comentários:

  1. Muito bom!

    As três características que mais admiro nos militares são: disciplina, respeito e lealdade.

    ResponderExcluir
  2. Prezados, incorporei na Cia de um dos mairoes MILITARES que conheci, o então Cap Nilton de Albuquerque Cerqueira, hoje Gen Reformado. A visão que ele tem da DSICIPLINA E DA LEALDADE, creio ser a mais correta. Naquela época, assunto importantes como estes, eram ministrados pelo Comandante de Cia, ao menos na Companhia de Petrechos Pesados do 1º Batalhão de Caçadores.
    -
    DISCIPLINA - Fiel cumprimento das Normas e Ordens, desde que elas estejam amaprada em leis em vigor. OU desde que naõ contraie leis em vigor.... era mais ou menos isso.... ORDEM ABSURDA NAÕ SE CUMPRE... mais claro de que isso.....
    -
    LEALDADE - Não é sacudir a cabeça para o comandante, isso é vaquinah de presépio. Sou o comanante de vocês, os ofiaiis e sargentos são seus superiores, poré, em determiandos casos, momentos, vocês poderão ter conehcimento de algo que nós n~çao temos, ter recebido outra oprdem, que não permita que vocês cunmpra a ordem recebida. Acontecendo isso, o dever do miltiar é dizer que não vai cumprir a ordem e jsutificar, O QUE EU NÃO CEITO É DEPOIS DE SE ISTALADO OM PROBLEMA ( dar zebra, como dizemos hoje )VOCÊS, SIMPLEMENTE DIZEREM QUE FOI ORDEM DO CAPITAÕ, DO TRENENTE, DO SARGENTO FULANO.....
    -
    Pena que não tivemos muitos Militares como ele.....
    -
    -
    -

    ResponderExcluir

GEOMAPS


celulares

ClustMaps