Aquecimento da economia expõe carência de formação de mão de obra, que precisa ser sanada para sustentar ritmo de crescimento do PIB
A redução do desemprego a 5,7% da PEA (População Economicamente Ativa) evidenciou um dos principais obstáculos à manutenção do crescimento sustentado do país: a carência aguda de mão de obra qualificada.
Antes as dificuldades se concentravam nos cargos de direção e nas funções de nível superior, pois só 11% dos brasileiros têm diploma universitário, contra 28% nos países mais desenvolvidos. Hoje porém faltam técnicos de nível médio e até trabalhadores com ensino fundamental.
Em consequência desse quadro, muitas empresas têm encontrado dificuldades de ampliar a produção na escala planejada ou se veem forçadas a alocar parte de sua equipe no treinamento intensivo -e nem sempre bem-sucedido- de novos funcionários.
Problemas dessa ordem não são novos na história do Brasil. Tanto assim que motivaram o presidente Nilo Peçanha a instituir, já em 1909, as Escolas de Aprendizes Artífices. A iniciativa, contudo, não gerou os resultados esperados. Na realidade o ensino profissionalizante só ganhou corpo em escala nacional na era Vargas, com a criação de escolas técnicas sustentadas por contribuições do próprio empresariado. Essas sim se revelaram capazes de preparar os trabalhadores para o exercício de funções que a escola pública de uma maneira geral desprezava.
Um novo passo foi dado com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1961, que estabeleceu a equivalência dos cursos técnicos ao secundário, o que permitia que alunos oriundos do ensino profissionalizante pudessem pleitear ingresso nas faculdades.
Esse avanço, contudo, acabou sendo minado pela ditadura militar que, ao tentar generalizar a profissionalização para todo o ensino médio a partir de 1971, provocou uma queda na qualidade do ensino das redes municipais e estaduais -que não estavam preparadas para oferecer essa formação nem tinham recebido a infraestrutura necessária para tanto.
Nos anos 90, pôde o ensino profissionalizante retomar sua expansão em bases mais sólidas. Não seria justo acusar os atuais governantes de descaso nessa área. O governo federal inaugurou 214 escolas de educação profissional de 2007 a 2010 e aumentou o número de matrículas de 140 mil para 348 mil. No mesmo período, o governo paulista criou 23 Fatecs (faculdades de tecnologia) e 72 Etecs (escolas técnicas). São iniciativas meritórias, sem dúvida. Mas ainda é pouco -como a própria situação do mercado de trabalho o demonstra.
Não basta ampliar a rede física voltada à formação técnica: também é necessário superar a habitual rigidez do setor público e atualizar os conteúdos ministrados. Quantas escolas ainda mantêm cursos para ensinar profissões em vias de extinção?
Os economistas clássicos consideravam que a produção exige três fatores: terra, trabalho e capital. Por muito tempo o país sofreu com a escassez de capitais. Não é possível que, ao solucionar esse problema, venha a ter sua expansão travada pela falta de trabalhadores preparados.
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