sábado, 1 de janeiro de 2011

APAGÃO PROFISSIONAL

FOLHA DE S. PAULO


Aquecimento da economia expõe carência de formação de mão de obra, que precisa ser sanada para sustentar ritmo de crescimento do PIB 

A redução do desemprego a 5,7% da PEA (População Economicamente Ativa) evidenciou um dos principais obstáculos à manutenção do crescimento sustentado do país: a carência aguda de mão de obra qualificada.
Antes as dificuldades se concentravam nos cargos de direção e nas funções de nível superior, pois só 11% dos brasileiros têm diploma universitário, contra 28% nos países mais desenvolvidos. Hoje porém faltam técnicos de nível médio e até trabalhadores com ensino fundamental.
Em consequência desse quadro, muitas empresas têm encontrado dificuldades de ampliar a produção na escala planejada ou se veem forçadas a alocar parte de sua equipe no treinamento intensivo -e nem sempre bem-sucedido- de novos funcionários.
Problemas dessa ordem não são novos na história do Brasil. Tanto assim que motivaram o presidente Nilo Peçanha a instituir, já em 1909, as Escolas de Aprendizes Artífices. A iniciativa, contudo, não gerou os resultados esperados. Na realidade o ensino profissionalizante só ganhou corpo em escala nacional na era Vargas, com a criação de escolas técnicas sustentadas por contribuições do próprio empresariado. Essas sim se revelaram capazes de preparar os trabalhadores para o exercício de funções que a escola pública de uma maneira geral desprezava.
Um novo passo foi dado com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1961, que estabeleceu a equivalência dos cursos técnicos ao secundário, o que permitia que alunos oriundos do ensino profissionalizante pudessem pleitear ingresso nas faculdades.
Esse avanço, contudo, acabou sendo minado pela ditadura militar que, ao tentar generalizar a profissionalização para todo o ensino médio a partir de 1971, provocou uma queda na qualidade do ensino das redes municipais e estaduais -que não estavam preparadas para oferecer essa formação nem tinham recebido a infraestrutura necessária para tanto.
Nos anos 90, pôde o ensino profissionalizante retomar sua expansão em bases mais sólidas. Não seria justo acusar os atuais governantes de descaso nessa área. O governo federal inaugurou 214 escolas de educação profissional de 2007 a 2010 e aumentou o número de matrículas de 140 mil para 348 mil. No mesmo período, o governo paulista criou 23 Fatecs (faculdades de tecnologia) e 72 Etecs (escolas técnicas). São iniciativas meritórias, sem dúvida. Mas ainda é pouco -como a própria situação do mercado de trabalho o demonstra.
Não basta ampliar a rede física voltada à formação técnica: também é necessário superar a habitual rigidez do setor público e atualizar os conteúdos ministrados. Quantas escolas ainda mantêm cursos para ensinar profissões em vias de extinção?
Os economistas clássicos consideravam que a produção exige três fatores: terra, trabalho e capital. Por muito tempo o país sofreu com a escassez de capitais. Não é possível que, ao solucionar esse problema, venha a ter sua expansão travada pela falta de trabalhadores preparados. 
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GEOMAPS


celulares

ClustMaps