Por Jack Welch com Suzy Welch
Exame.com.br
1 - Que mudanças devem ocorrer nos Estados Unidos para que não tenhamos mais de terceirizar nossa produção para a Índia e outros países?
(Anônimo, Orlando, Flórida)
Não há o que fazer. Na verdade, não há razão para se preocupar com isso. Para começar, esse foi um tema muito politizado. Em vez de perguntar "como dar um basta à terceirização?", o certo seria indagar "como podemos utilizar a terceirização para aumentar a competitividade em um mercado que é, e sempre será, globalizado?" É claro que a terceirização não tem sido um processo indolor: as demissões que provoca machucam. Porém, temos de encarar a terceirização como parte de um cenário mais amplo. Devemos entendê-la não só como um processo indissociável da economia mundial mas também como fator igualmente positivo para nossa economia. É indissociável porque as economias sempre atendem às demandas do consumidor. Hoje, o que as pessoas esperam de um produto é que ele seja barato e de alta qualidade. Para satisfazê-las, as empresas têm de circular pelo mundo em busca de custos mais vantajosos e de mentes inovadoras. Em relação ao impacto de tudo isso sobre os Estados Unidos, é preciso repensar a crítica. Desde meados de 2003, a economia americana cresceu cerca de 20%. Isso equivale a 2,2 trilhões de dólares -- o que corresponde ao tamanho da economia chinesa. Foram criados 7 milhões de postos de trabalho. O crescimento dos salários passou de 1,5% em 1994 para mais de 4% no ano passado. Essas estatísticas, evidentemente, significam que os adversários da terceirização -- muitos dos quais caíram no anonimato antes mesmo das eleições de 2004 -- não deverão dar as caras na campanha de 2006. Os inimigos da terceirização diziam que os empregos da área de tecnologia deixariam o país aos montes.
Na verdade, o número de postos de trabalho nesse segmento cresceu 17% em relação aos níveis da pré-bolha de 1999. Não é de espantar que a maioria dos políticos elogie agora as vantagens do sistema global integrado. Se hoje a economia americana enfrenta dificuldades, não é devido à terceirização. O problema é que as restrições à imigração dificultam o preenchimento dos postos de trabalho. Para tornar a economia americana competitiva de fato, será preciso suspender os limites impostos aos vistos, facilitando a permanência no país de trabalhadores estrangeiros. O ideal seria que o programa fosse substituído por um sistema permanente de green card, que atrairia trabalhadores qualificados para uma relação mais positiva e de longo prazo com a cultura americana. Trata-se, em última análise, da construção de um futuro econômico melhor para todos. Portanto, esqueça essa história de terceirização. O desafio que os Estados Unidos têm hoje pela frente consiste em incorporar a mão-de-obra qualificada vinda de fora.
2 - Tenho 29 anos, sou bioquímico e trabalho em uma pequena empresa fundada por meu pai há 32 anos. Faz algum tempo que não crescemos, e receio que talvez tenhamos de fechar as portas. Meu pai e eu não temos experiência alguma em administração, e tudo indica que não conseguiremos realizar nossos sonhos. Faria diferença se eu fizesse um MBA ou atualizasse meus conhecimentos técnicos?
(Márcio Luz de Oliveira Jr., Vitória, ES, Brasil)
É pouco provável. Seu problema é grande demais e urgente. Você tem de aceitar o fato de que chegou a hora da verdade, o que é muito comum quando se trata de empresas familiares ou de companhias novatas. Uma tecnologia especial ou um produto único, além de paixão e determinação, podem ser a solução do seu problema. Você necessita de ajuda -- e de ajuda externa. Não é preciso entrar em pânico. Contrate um presidente de primeira linha. Sei que a sugestão pode parecer um despropósito para empresários na sua situação, mas o desconforto ocorre só nos primeiros momentos, em que é necessário criar novos papéis e novas relações. Depois disso, tudo muda para melhor, na medida em que o profissional vindo de fora, com sua experiência e fome de mudança, descobre o caminho do crescimento que você não foi capaz de vislumbrar. Você, aliás, encontra-se em posição particularmente vantajosa. A estrela de que você precisa pode sair de seu próprio segmento industrial.
A grande indústria farmacêutica também tem enfrentado problemas de crescimento. Por causa disso, há numerosos executivos de talento que adorariam a oportunidade de dar uma guinada em uma empresa familiar em dificuldades. É claro que para atrair um agente de mudança desse nível você terá de abrir mão de alguma coisa. Você e seu pai, por exemplo, terão de abandonar o dia-a-dia da organização, as contratações e o planejamento estratégico. Será preciso abrir mão também de parte das ações da empresa. É simplesmente impossível contratar um presidente de fora sem conceder a ele participação no negócio. A boa notícia é que, se a estrela contratada fizer o serviço bem-feito, todos ganharão -- financeiramente e em outros aspectos também, à medida que a empresa crescer e prosperar. Às vezes, abrir mão dá medo. Mas não há, de fato, nada a temer, uma vez que seu pai continuará a ser o acionista majoritário. Certifique-se apenas de que esse controle seja utilizado de maneira sensata. Lembre-se: você não contratará um superprofissional para que ele lhe obedeça, e sim para que o salve!
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