EDITORIAL
FOLHA DE S. PAULO
É mais que conhecido o padrão incivilizado da busca de soluções individuais para os problemas coletivos, no Brasil, entre os que têm renda para pagar a mais por aquilo que o desembolso de impostos não lhes garante.
Como os transportes públicos são deficientes, recorre-se ao carro. Hospitais e escolas públicas oferecem serviços medíocres? Planos de saúde e escolas particulares resolvem.
Das autoridades se espera que, não sendo capazes de prover os serviços públicos ou exigir qualidade de empresas concessionárias, ao menos se isentem de estimular a distorção. Pois foi precisamente o oposto que fez o secretário de Energia do Estado de São Paulo, José Aníbal (PSDB).
Diante dos apagões que vêm assolando a região metropolitana, Aníbal anunciou que vai estimular grandes consumidores de eletricidade a produzir sua própria energia. Até benefícios fiscais seriam utilizados para incentivar shopping centers e hospitais, por exemplo, a adquirir geradores para usar nos horários de pico.
Na verdade, a ineficiência das concessionárias de energia e a omissão do poder público já tornaram o autossuprimento inevitável. Como revelou ontem esta Folha, várias empresas instalaram minitermelétricas para garantir o próprio fornecimento.
O primeiro e mais óbvio problema está na queima de combustíveis fósseis. Embora existam geradores movidos a álcool, fonte renovável de energia, estão longe de se tornar padrão no mercado. A geração autônoma agrava a poluição urbana e o aquecimento global, pois substitui energia em sua maior parte gerada por fontes limpas, como hidrelétricas.
As deficiências da distribuição na região metropolitana são conhecidas pelo menos desde 2008. Naquele ano, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) -responsável por administrar geração e distribuição em todo o país- apontou 14 obras emergenciais para a transmissão no Estado de São Paulo.
Além do ONS, estavam presentes na reunião Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Secretaria de Energia, Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia) e CTEEP (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, privatizada em 2006). Três anos depois, cabe a essas entidades implementar as soluções, não aos consumidores.
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