quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Apagão da educação

Denize Bacoccina
Isto é Dinheiro

Exame internacional mostra que a educação no Brasil vai mal, com prejuízos para toda a sociedade. Está na hora de mudar essa história para sempre

O ministro da Educação, Fernando Haddad, acha que o Brasil avançou muito na qualidade da educação nos últimos anos. O Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), divulgado na semana passada, comprova que os estudantes brasileiros melhoraram o desempenho em 2009. Porém, os resultados ainda são lamentáveis. 

O programa avalia estudantes de 65 países a cada três anos. Nesta edição, colocou o Brasil em 53º lugar em leitura e ciências e em 57º em matemática. Os estudantes brasileiros avançaram pouco, bem menos do que os de outros países. 

Em leitura, apenas 4,8% em relação ao exame anterior, de 2006. Quase metade dos estudantes brasileiros que fizeram a prova não atingiu o nível básico de leitura. Apenas 23% chegaram ao nível considerado adequado.

O primeiro lugar no ranking é da China, não por acaso o país que no ano que vem deve desbancar os Estados Unidos na liderança mundial em patentes. Em matemática, os cinco primeiros colocados são asiáticos. 

O investimento em educação tem repercussões não apenas no bem-estar individual, mas no nível de desenvolvimento industrial, científico e econômico de um país. Em poucos anos, a China saiu do estágio de exportador de bugigangas para o de exportador de carros. Hoje, todas as crianças chinesas aprendem inglês na escola. Em poucos anos, o país terá uma vantagem adicional sobre seus concorrentes no cenário mundial.

No caso brasileiro, as deficiências da formação escolar dificultam o trabalho das empresas que precisam contratar. É conhecida a falta de engenheiros no mercado de trabalho brasileiro. Mas não só. 

Grandes empresas como a Petrobras só conseguem preencher suas vagas se oferecerem cursos de qualificação. Como não encontram profissionais preparados, precisam treiná-los. 

Apesar do atraso que esse treinamento pode representar para os planos de expansão da estatal, a maior empresa do País está capacitada para fazê-lo. Mas não é essa a situação de centenas de milhares de empresas menores, que podem ter seus planos de expansão prejudicados pela falta de profissionais. 

Todas poderiam se beneficiar de uma mão de obra mais qualificada, preparada para competir no mercado global. Um estudante de 15 anos que não sabe ler adequadamente dificilmente será “treinável” em poucos anos, quando entrar no mercado de trabalho.

Com o desemprego em 6,2%, o menor índice da história brasileira, grandes e pequenas empresas sentem a dificuldade de encontrar profissionais. A consequência é que a massa salarial real aumentou 5% nos últimos 12 meses. 

Bom tanto para o trabalhador que pode viver um pouco melhor quanto para a economia que vai se beneficiar de mais dinheiro para o consumo. O problema é que os ganhos de produtividade aumentaram apenas metade desse índice. 

O que significa mais um gargalo, além dos já conhecidos ligados à infraestrutura, elevada carga tributária, excessiva burocracia e outros. E o que é pior: mesmo com desemprego baixo, sem educação de qualidade o País continuará tendo um elevado contingente de pessoas – mesmo jovens – sem condições de usufruir dos benefícios de uma economia em expansão. Está na hora de mudar essa história para sempre. O Brasil não pode se contentar com uma educação melhor apenas à de países como Albânia, Panamá e Quirguistão.

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