Ex-Blog
1. Uma primeira pergunta é quanto ao número de traficantes que controlavam ou estavam "exilados" no Complexo do Alemão (C.A.). As forças militares e policiais no momento do cerco da semana passada falavam em 500. A imprensa -antes disso- falava em 1.200. E blogs de policiais e afins falavam em 2000. Fiquemos com 1.200. Muito difícil passarem despercebidos após o cerco, com binóculos noturnos, helicópteros, posicionamento em comunidades mais altas no entorno...
2. A polícia, nas últimas semanas, garantia que ali os traficantes contavam com 500 fuzis. Afinal, seja pela entrada de UPPs, seja pela entrada de milícias, os fuzis saltam para lá, junto com os traficantes. A polícia diz ter encontrado 34 toneladas de maconha. Mesmo que o peso inclua a embalagem, (trouxinha) e o peso seja a metade, é uma grande quantidade. Mas uma quantidade dessas não há como carregar, nem vale a pena pelo preço que o "matuto" consegue no Paraguai. A quantidade de cocaína que a polícia informa ter apreendido de 235 kg, é na verdade menos da metade disso, belo "batismo" que recebe e a "endolação".
3. A menos que fuzis e cocaína estejam enterrados (e aí vale a pena usar cães farejadores de classe A, e detectores de metais de maior sensibilidade), a saída dos -digamos- 1.200 traficantes, foi tranquila para passar com tanta "carga".
4. A polícia fala de uma rede de esgotos em construção que teria sido mais aberta por orientação dos traficantes. Bem, isso seria ter previsão da invasão e cumplicidade da empreiteira. As canalizações que estão em construção no Complexo, cujas obras começaram a fins de 2007, são na Grota e Nova Brasília, que dão na Estrada do Itararé, ponto básico da concentração.
5. A outra hipótese, levantada pela imprensa, é que tenha ocorrido cumplicidade da polícia. Bem, pode ser para uns 10 chefetes, mas para 500 ou 1.200 não há como. Os "2 ou 3 traficantes" presos, segundo policiais, estavam fora do "movimento", pois eram carta marcada. Não foram presos: se entregaram. Um deles com ajuda da mãe.
6. Mas há uma terceira hipótese. O Exército e a Polícia Federal mantêm estas comunidades mapeadas e acompanhadas. Se tudo o que se dizia do 'comando vermelho' no C.A. era verdade, o Exército e a Polícia Federal sabiam que o confronto produziria um banho de sangue, provavelmente maior entre os moradores (civis). Os traficantes não têm apego à vida e, se estivessem cercados de verdade, e com 500 fuzis, iriam atirar também na população para inibir a ação das forças militares e policiais.
7. Como seriam as manchetes da imprensa no dia seguinte, no Brasil e no Mundo com 500 moradores inocentes mortos e outros 500 baleados?
8. Portanto, há também a hipótese de que a hora limite dada pelas forças militares não era para se entregar, mas para se escapar. Afinal, é assim na UPP. E se vale a lógica da UPP (o C.A. será uma UPP, segundo o governador), nada tão coerente que priorizar o controle do território, e eliminar os riscos de uma tragédia civil.
9. Dizem os manuais da polícia: poupar a vida de um civil é mais importante que prender um bandido. Pode ser que tenha sido essa lógica. Claro, que não se pode e não se deve admitir. Mas quem estaria contra a aplicação desta lógica?
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