terça-feira, 1 de março de 2011

O louco, o sangue e o petróleo

Clóvis Rossi
FOLHA DE S. PAULO

A islamofobia que assola o planeta, especialmente Estados Unidos e Europa, faz com que tudo e todos que estejam relacionados ao islamismo sejam vistos como loucos de turbante a ponto de detonar uma bomba.

Pois saiu exatamente de uma liderança islâmica a mais sábia avaliação sobre a realidade na Líbia.

Youssef al-Qaradhawi, presidente da União Internacional dos Sábios Muçulmanos, disse o seguinte, em entrevista à Al Jazeera: "A verdade é que eu não tenho nada a dizer a Gaddafi, porque nós devemos nos dirigir apenas às pessoas razoáveis. As pessoas não razoáveis não devem ser abordadas. Ora, ele não é razoável. Faz tempo que ele é louco".

Simples, curto e grosso. Torna inócuos os apelos de lideranças ocidentais para que cesse o banho de sangue na Líbia. O Ocidente sabe, há muito tempo, que Gaddafi é louco. Prova-o o fato de ter dado respaldo ao atentado contra um avião da PanAm sobre Lockerbie na Escócia (270 mortos).

Adianta fazer apelos a um louco? É louvável o francês Nicolas Sarkozy pedir a imposição de sanções à Líbia e a suspensão de todos os laços econômicos com o reino de Gaddafi. Mas é tarde. Até que sanções façam efeito -se fizerem- o banho de sangue terá sido ainda mais impressionante.

O fato é que o mundo ainda não desenvolveu mecanismos de brecar barbáries. Ações unilaterais (Estados Unidos no Iraque) não puseram fim à violência. Ações das Nações Unidas não impediram massacres nem em Ruanda nem em Srebrenica, na Bósnia.

Talvez porque as forças de pacificação chegam tarde quando muito sangue já correu e muito ódio já se acumulou.

Quem sabe agora que o petróleo passou dos US$ 110 o barril, o Ocidente resolva lidar com um déspota louco com a força, única linguagem que eles entendem.

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